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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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vivemos no risco da transgressão da ética. Ao mesmo tempo, também o risco

do moralismo farisaico e hipócrita que habita nosso cotidiano. Mais do que

nunca a fala de Freire ganha força de um alerta constante: “Quando, porém,

falo da ética universal do ser humano estou falando da ética enquanto marca

da natureza humana, enquanto algo absolutamente indispensável à

convivência humana” (p.18). Por todas essas questões, querer bem é tão

importante e tão difícil de viver, porque é preciso com-viver, viver com o

outro, com-vivência, viver com/em comunidade.

Nesse hino de amor à prática educativa, a pedagogia da autonomia

necessita do querer bem aos estudantes como condição para o exercício

concreto dessa autonomia, em uma sociedade que não valoriza educação

como um direito, que dificulta a reinvenção da cidadania, mas que ao mesmo

tempo, nos mobiliza para a luta cotidiana, tentando responder à pergunta de

Agnes Heller (1993, p. 395): “Se podemos viver uma vida digna – por que

não tentar?” Podemos querer bem freiriano – por que não tentar? É o grande

desafio na prática educativa que fazemos.

O querer bem que possibilita o diálogo e a liberdade encaminha a

autonomia que se constrói nas relações cotidianas de reciprocidade, nos

limites e possibilidades que se tem na concretude dessas relações. Autonomia

que é sempre relativa, produzida em relação com o outro/os outros tal como

Heller (1982) explicita nesse fragmento:

Autonomia significa que somos responsáveis por nossas ações, já que elas

decorrem de nós mesmos; e devemos sempre supor que poderíamos ter

agido de outro modo. Relativa significa que a situação social concreta e

os diversos sistemas normativos definem os limites no interior dos quais

podemos interpretar e realizar determinados valores. (p. 151)

Quando se discute autonomia, refere-se à relação democrática e a

dialogicidade como conceitos que se constituem em possibilidades de

permanente processo de construção coletiva, em que limites são demarcados

e ultrapassados com responsabilidade e certo cuidado para não cair em um

espontaneísmo pedagógico.

Nessa direção, querer bem, gostar do trabalho e dos estudantes, sem a

ingênua visão da panaceia ou do gosto individual por afinidade ou simpatia,

fortalece a existência de um querer bem freiriano, ético e coletivo, que se

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