Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

silvawander2016
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30.05.2021 Views

meus ouvidos ouvirão mais;meus olhos verão o que antes não viam,enquanto esperarei por ti.Não te esperarei na pura esperaporque o meu tempo de espera é umtempo de quefazer.O “tempo de quefazer” não é o tempo do relógio, o chronos, mas okairós, o tempo prenhe do novo que está nascendo. Ao mesmo tempo,considerando que homens e mulheres não existem fora da história, este novonão virá ao mundo sem a sua participação.Freire lança mão da categoria Que Fazer para explicitar sua posiçãoético-política coerente com sua forma de conceber a “existência humana” nomundo. De modo crítico e problematizador, ele rejeita enfaticamente asvisões e as posturas fatalistas diante da história e ratifica, em toda sua obra,uma concepção dialética na forma de entender nossa presença no mundo,enquanto seres de ação, de decisão, de rupturas, de transformação e dainserção crítica, para muito além da pura adaptação. A partir dessaperspectiva é que Freire entende que a presença humana no mundo só temsentido enquanto seres históricos, capazes de uma práxis transformadora,materializada na luta pelo ser mais.Desde a Pedagogia do oprimido, Freire problematiza nosso desafio dahumanização do mundo, que implica na superação de toda uma cultura daopressão. Sua postura ético-política é muito clara ao explicitar, no 4º capítuloda Pedagogia do oprimido, que a libertação/humanização do mundo requer adenúncia de uma sociedade e uma cultura opressoras que se tornam cada vezmais insuportáveis e, diante dessa realidade, impõe-se a nós todos a exigênciaradical da afirmação de um novo ethos cultural – da libertação.Nesses termos, na Pedagogia do oprimido, o Que Fazer freiriano implicana construção de uma pedagogia da libertação. A pedagogia é entendida,então, no sentido amplo do termo e sua presença se manifesta em todas asdimensões da vida humana em sociedade: relações familiares e sociais, napolítica e economia, na religião, nos processos culturais e educacionais, naorganização dos movimentos populares, entre outras. Mas,fundamentalmente, a pedagogia da libertação significa, em Freire, a

esperança de uma nova humanidade a ser construída a partir dos oprimidos.De modo mais concreto, o Que fazer se explicita na luta por um mundomais humanizado que, na obra Pedagogia do oprimido, converge para umaação cultural libertadora ou uma revolução cultural fundamentada naradicalidade dialógica expressa na vivência de saberes, tais como: “a uniãodos diferentes para lutar contra os antagônicos”; na “organização dosoprimidos”; na “síntese cultural” e na “colaboração” de todos os que sonhamcom uma sociedade mais humanizada.Na Pedagogia da autonomia, Freire problematiza em vários momentos arelação entre “desafio ético” e a “luta política” dos educadores, líderespolíticos, cidadãos progressista s que buscam construir um mundo mais beloe feliz para vivermos. A categoria Que Fazer está ali colocada na busca deexplicitar sua posição ético-política, bem como sua visão de mundo e de serhumano enquanto presença histórica.Ao denunciar a trágica condição de milhares de brasileiros, irmãosnossos, que vivem do lixo, reduzidos a uma rotina diária de disputar algo comanimais, nos lixões das periferias de cidades, para matar a própria fome,Freire revela toda sua indignação – a justa raiva – que devemos ter comoseres éticos, em jamais aceitar tais realidades históricas como algo dado, queé “natural” e não poderia ser diferente. “É triste, mas, que fazer?A realidade émesmo esta. A realidade, porém, não é inexoravelmente esta. Está sendo estacomo poderia ser outra e é para que seja outra que precisamos, osprogressistas, lutar” (FREIRE, 1997, p. 83).O Que Fazer da posição cômoda do discurso fatalista neoliberal, que quernos convencer de que não há outra saída, deve ser rechaçado com o QueFazer da práxis transformadora, fundado na postura ética humanizadora, quenos remete para a necessária intervenção no mundo no âmbito de nossa açãoenquanto educadores ou cidadãos inseridos em um contexto social concreto.Portanto, é na necessária recusa ao “não há o que fazer” e na afirmação doQue Fazer ético e politicamente comprometido que afirmamos nossa marcano mundo e nos construímos na esperança de alcançarmos um sentido maisautêntico para nossa presença no mundo.Referências: FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997; FREIRE,Paulo. Pedagogia da indignação. São Paulo: UNESP, 2000; FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido.São Paulo: Paz e Terra, 1993; FREIRE, Paulo; NOGUEIRA, Adriano. Que fazer: Teoria e prática emeducação popular. Petrópolis: Vozes, 1989.

esperança de uma nova humanidade a ser construída a partir dos oprimidos.

De modo mais concreto, o Que fazer se explicita na luta por um mundo

mais humanizado que, na obra Pedagogia do oprimido, converge para uma

ação cultural libertadora ou uma revolução cultural fundamentada na

radicalidade dialógica expressa na vivência de saberes, tais como: “a união

dos diferentes para lutar contra os antagônicos”; na “organização dos

oprimidos”; na “síntese cultural” e na “colaboração” de todos os que sonham

com uma sociedade mais humanizada.

Na Pedagogia da autonomia, Freire problematiza em vários momentos a

relação entre “desafio ético” e a “luta política” dos educadores, líderes

políticos, cidadãos progressista s que buscam construir um mundo mais belo

e feliz para vivermos. A categoria Que Fazer está ali colocada na busca de

explicitar sua posição ético-política, bem como sua visão de mundo e de ser

humano enquanto presença histórica.

Ao denunciar a trágica condição de milhares de brasileiros, irmãos

nossos, que vivem do lixo, reduzidos a uma rotina diária de disputar algo com

animais, nos lixões das periferias de cidades, para matar a própria fome,

Freire revela toda sua indignação – a justa raiva – que devemos ter como

seres éticos, em jamais aceitar tais realidades históricas como algo dado, que

é “natural” e não poderia ser diferente. “É triste, mas, que fazer?A realidade é

mesmo esta. A realidade, porém, não é inexoravelmente esta. Está sendo esta

como poderia ser outra e é para que seja outra que precisamos, os

progressistas, lutar” (FREIRE, 1997, p. 83).

O Que Fazer da posição cômoda do discurso fatalista neoliberal, que quer

nos convencer de que não há outra saída, deve ser rechaçado com o Que

Fazer da práxis transformadora, fundado na postura ética humanizadora, que

nos remete para a necessária intervenção no mundo no âmbito de nossa ação

enquanto educadores ou cidadãos inseridos em um contexto social concreto.

Portanto, é na necessária recusa ao “não há o que fazer” e na afirmação do

Que Fazer ético e politicamente comprometido que afirmamos nossa marca

no mundo e nos construímos na esperança de alcançarmos um sentido mais

autêntico para nossa presença no mundo.

Referências: FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1997; FREIRE,

Paulo. Pedagogia da indignação. São Paulo: UNESP, 2000; FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido.

São Paulo: Paz e Terra, 1993; FREIRE, Paulo; NOGUEIRA, Adriano. Que fazer: Teoria e prática em

educação popular. Petrópolis: Vozes, 1989.

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