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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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palavras e das “coisas mortas ou semimortas” mas como um processo que se

encharca de atos de criação e de recriação. Para tanto, o papel do

alfabetizador(a) deve ser o de “dialogar com o “analfabeto” (aspas minhas)

sobre situações concretas, por isto a alfabetização não pode fazer-se de cima

para baixo, nem de fora para dentro” (FREIRE, 1979, p. 41).

A centralidade da alfabetização está em garantir que as palavras geradoras

que organizarão o processo de ensinar sejam oriundas da realidade dos

alfabetizandos(as), dos grupos populares, sendo assim, forma-se o que Freire

denomina de universo vocabular, carregados de experiência existencial.

O debate em torno das palavras geradoras busca o conceito antropológico

de cultura, alfabetizando e conscientizando simultaneamente. Freire afirma

que são “situações locais que abrem perspectivas para análise dos problemas

regionais e nacionais” (FREIRE, 1979, p. 43), porque uma palavra geradora

pode envolver uma situação de um indivíduo ou de uma coletividade.

Entretanto, para melhor explicar um processo de alfabetização que

dialogue permanentemente com a realidade dos(as) educandos(as), Freire faz

importante ressalva ao retomar esta ideia em Pedagogia da esperança, uma

vez que ele percebe que há uma visão reducionista entre alguns que

compreendem que levantar as palavras geradoras significa nelas permanecer.

Entretanto, Freire nunca disse que “este universo vocabular deveria ficar

absolutamente adstrito à realidade local. Se o tivesse dito não teria da

linguagem a compreensão que tenho” (FREIRE, 1982, p. 45).

Neste sentido, “a função do educador não pode ser a do repassador ou a

do consulente especialista, mas sim a de um parceiro, a de um articulador de

um movimento formativo, de uma liderança política e intelectual” (BRITTO,

2006, p. 16).

Aprender a ler e escrever, mesmo que seja um desejo individual legítimo

(para melhorar de vida) e uma necessidade imposta socialmente, não pode

esgotar-se nesses dois aspectos. Ao contrário, a alfabetização precisa ser

compreendida como um conhecimento ampliador, pois alfabetizar-se “é

participar, junto com outras pessoas, de um universo ampliado da própria

curiosidade humana. Essa matriz da consciência, junto com o conhecimento e

o sofrimento” (BRANDÃO, 2006, p. 441).

Referências: BRANDÃO, Carlos Rodrigues. A educação popular na escola cidadã. Rio de

Janeiro: Vozes, 2002; BRITTO, Luiz Percival Leme. Ler e escrever para fazer – leitura e escrita na

educação de adultos. São Paulo: Pancolor fotolito e gráfica, 2006; FREIRE, Ana Maria Araújo. Paulo

Freire – uma história de Vida. São Paulo: Villa das Letras, 2006; FREIRE, Paulo. A importância do

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