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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras verdadeiras,

com que os homens transformam o mundo. Palavras pronunciadas com o

intuito de produzir existencialmente comunicação, diálogo e libertação.

Existir, humanamente, é indispensavelmente pronunciar o mundo, o que

implica modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, volta-se

problematizado aos sujeitos pronunciantes, exigindo deles, é bem verdade,

um novo pronunciar. Não o pronunciar apenas da Ciência e Tecnologia, que

transformam nossa realidade concreta, mas nosso pronunciamento mediado

pelos aparatos científicos-tecnológicos que produzem conosco nossa

existência na perspectiva da libertação.

Historicamente, não tem sido no silêncio que os seres humanos têm se

produzido existencialmente no mundo, mas na palavra, no trabalho, na açãoreflexão.

Nesse sentido, o diálogo é este encontro comunicativo e ontológico

dos seres humanos, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se

esgotando, portanto, na relação eu-tu. Esgotamento inadmissível, pois nossa

própria existência se dá além disso. Essa é a razão porque não é possível o

diálogo entre os que querem a pronúncia do mundo e os que não a querem,

entre os que negam aos demais o direito de dizer a palavra e os que se acham

negados desse direito. Fora da esfera de pronunciamento do mundo está a

opressão cultural, perigosamente silenciosa. Contudo, para inserção nesse

escopo pronunciador, é preciso primeiro, para os que assim se encontram

negados no direito primordial de pronunciar o mundo através do dizer a sua

palavra, reconquistem esse direito, proibindo que esse assalto desumanizante

continue. Isso porque, ontologicamente, o não pronunciamento do mundo nos

desumaniza (FREIRE, 1976b).

Dizendo a palavra com que, “pronunciando” o mundo, os seres humanos

o transformam, o diálogo se impõe como caminho pelo qual ganhamos

significação enquanto tal. Por isso, o diálogo é uma exigência existencial,

humana. Afinal, se ele é o encontro em que se solidariza o refletir e o agir de

seus sujeitos (pronunciamento) endereçados ao mundo a ser transformado e

humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar ideias de um sujeito

no outro (comunicados não pronunciam), nem tampouco tornar-se simples

troca de ideias a serem consumidas pelos educandos. Não é também

discussão guerreira, “bate-boca”, entre sujeitos que não aspiram a

comprometer-se com a pronúncia do mundo, nem com buscar a verdade, mas

com impor a sua. Ao contrário, porque é encontro de seres humanos que

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