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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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criticamente, sua concepção de alfabetização-educação, ou seja, de que há

duas possibilidades de fazer pedagogia: uma, a partir de uma prática alienante

e universalizante; outra, a partir de uma prática libertadora e dialógica, pois

não há neutralidade em alfabetização-educação.

O ano de 1962 foi marcado pela criação do Serviço de Extensão Cultural

da Universidade do Recife (SEC) que, de acordo com Ana Maria Freire, era

um desejo de Freire, já que este compreendia a Universidade como espaço

de, além de outros aspectos, formar professores para trabalhar com educação

popular.

Sendo o SEC um lugar importante para o pensamento e para o

planejamento das práticas de educação popular, Ana Maria Freire recorda que

nas “primeiras horas do golpe militar de 1964, nada sobrou na sua sede de

documentação e dos trabalhos educativos do SEC e da atuação dos

idealizadores e do seu primeiro diretor Paulo Freire” (FREIRE, 2006, p. 105).

No livro A importância do ato de ler, Freire retoma com muita clareza

sua compreensão sobre o conceito de alfabetização, acentuando que seu

caráter deve ultrapassar os limites da pura decodificação da palavra escrita,

pois “a compreensão crítica do ato de ler se antecipa e se alonga na

inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí

que a posterior leitura desta não possa prescindir da leitura daquele” (FREIRE

1982, p. 9).

Desta forma, apreender o texto exige a apreensão das relações entre este e

o contexto, por isto, a alfabetização é um “ato político e um ato de

conhecimento, por isto mesmo um ato criador” (p. 9), em que o alfabetizando

é sujeito e não o objeto da alfabetização.

Ensinar não é transmitir, mas estabelecer condições para sua construção,

sendo que quanto mais crítico for este processo (ensinar e aprender) tanto

mais se amplia a vontade de saber, a curiosidade epistemológica diante dos

desafios que o mundo apresenta.

Esta relação texto-contexto-texto e mundo-palavra-mundo está presente

no cotidiano, sendo que a isto Freire chama de movimento, visto que “a

leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura de mundo, mas por uma

certa forma de escrevê-lo ou de reescrevê-lo”, ou seja, de transformá-lo a

partir de uma prática consciente (FREIRE, 1982, p. 13).

Nesta perspectiva a alfabetização que é compreendida como ato criador

não pode ser vista como um simples processo de memorização mecânica das

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