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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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mundo sem tomar o poder: o significado da revolução hoje, publicado, em

2003, pela editora Viramundo. Há muitos pontos em comum entre eles. O

livro de John Holloway resgata e renova a força emancipadora da obra de

Marx: os conceitos de autonomia e autodeterminação aparecem como

núcleo central da obra marxiana, como aparecem também na obra de Paulo

Freire. Tanto a visão de Holloway quanto a de Freire é estrategicamente

pacifista. Não podemos construir uma sociedade de relações de não poder por

meio da “conquista” do poder. O poder foi muitas vezes tomando sob o

pretexto de ser distribuído e o resultado foi exatamente o oposto disso. A

lógica do poder precisa ser outra desde o início. Não se pode tomar o poder

para abolir o poder. Não se trata de conquistar o poder, mas de dissolvê-lo. Se

o poder é algo que vai muito além do aparato coercitivo do Estado e está

diluído em toda a sociedade, então não é algo que possa ser “tomado”. Podese

“tomar” o governo através da força, mas não se toma o poder.

Contudo, Paulo Freire tem uma visão mais otimista do que John

Holloway em relação a possibilidade de conquistas no seio do Estado

democrático. A filiação dele ao Partido dos Trabalhadores foi motivada pela

crença num “partido educador-educando”, nascido das lutas populares, e nas

suas possibilidades de conquista de direitos sociais. Segundo ele,

[...] a grande tarefa do poder político é garantir as liberdades, os direitos

e deveres, a justiça, e não respaldar o arbítrio de uns poucos contra a

debilidade das maiorias. Assim como não podemos aceitar o que venho

chamando de “fatalismo libertador”, que implica o futuro

desproblematizado, o futuro inexorável, não podemos igualmente aceitar

a dominação como fatalidade. Ninguém me pode afirmar

categoricamente que um mundo assim, feito de utopias, jamais será

construído. Este é, afinal, o sonho substantivamente democrático a que

aspiramos, se coerentemente progressistas. Sonhar com este mundo,

porém, não basta para que ele se concretize. Precisamos de lutar

incessantemente para construí-lo. (Freire, 2000, p. 131)

Paulo Freire nos fez sonhar porque falava a partir de um ponto de vista

que é o ponto de vista do oprimido, do excluído, a partir do qual podemos

pensar um novo paradigma civilizatório, o sonho de um outro mundo

possível, necessariamente melhor.

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