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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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libertando o opressor.

Enquanto na teoria da ação antidialógica a conquista, como sua primeira

característica, implica num sujeito que, conquistando o outro, o

transforma em quase “coisa”, na teoria dialógica da ação, os sujeitos se

encontram para a transformação do mundo em co-laboração... Não há,

portanto, na teoria dialógica da ação, um sujeito que domina pela

conquista e um objeto dominado. Em lugar disto, há sujeitos que se

encontram para a pronúncia do mundo, para a sua transformação.

(Freire, 1987, p. 96)

O oprimido não se liberta tomando o lugar do seu opressor. Por isso, dizia

Freire, é preciso reinventar o poder. O poder dos poderosos só cria pessoas

despossuidas de poder e é preciso que todas as pessoas exerçam o poder. O

poderoso depende do despojado de poder. Por isso o poder precisa ser

dissolvido, não conquistado. A sociedade precisa livrar-se de relações de

poder de mando e subordinação. É preciso criar relações radicalmente

democráticas. Aqui, o conceito-chave de Freire é a autodeterminação, tal

como havia sido pensado por Karl Marx e que se completa com o conceito

gramsciano de “sociedade autorregulada”.

Mudar exige força: força de mudar. Por isso, trata-se de “empoderar”

(um conceito desenvolvido nas últimas obras de Freire, que usava o termo

inglês empowerment), de fortalecer as pessoas e suas organizações sociais e

movimentos como o dos em terra, o dos sem teto, o dos moradores de rua, de

estudantes, imigrantes, mulheres, indígenas, homossexuais, negros, minorias,

associações religiosas, entidades sem fins lucrativos, organizações não

governamentais, etc. unindo suas lutas específicas com as lutas globais da

transformação. Trata-se de fortalecer os laços entre os excluídos. Trata-se de

a sociedade exercer o controle direto sobre o Estado e o mercado, através de

mecanismos de gestão pública não estatal. Paulo Freire defendeu, na sua

gestão na Prefeitura de São Paulo (1989-1991), as plenárias pedagógicas, a

constituinte escolar, os conselhos de escola, o orçamento participativo, a

descentralização político-administrativa. Não se trata de construir um poder

central, dirigido por um único partido, no seio do velho Estado. Trata-se de

construir o poder popular no seio da nova sociedade.

Paulo Freire teria gostado de ler o livro de John Holloway, Mudar o

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