Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

silvawander2016
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qualquer condição para estabelecermos relações autenticamenteintersubjetivas e construirmos projetos humanos amorosos e solidários paracom a alteridade que irrompe na história.Referências: FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 2007; FREIRE,Paulo. Pedagogia da esperança. São Paulo: Paz e Terra, 1994; FREIRE, Paulo. Pedagogia dooprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1993.

PERGUNTACristóvão Domingos de Almeida e Danilo R. StreckA pergunta constitui o centro da “concepção problematizadora daeducação” que, em Pedagogia do oprimido, Paulo Freire contrapõe à“concepção bancária da educação”. A primeira se caracteriza pela abertura doser humano ao mundo e ao outro, enquanto a segunda se funda numa postura“fixista” ou “imobilista” (FREIRE, 2005, p. 83). A própria humanização,colocada como meta na pedagogia freiriana, tem como pressuposto acondição de homens e mulheres se colocar a si mesmos como problema e aconstantemente redescobrir o seu “posto no cosmo” (FREIRE, 2005, p. 31).A pergunta parte da curiosidade, sem a qual não pode haver verdadeiraprodução do conhecimento. Freire a compreende como uma dimensãoontológica, vinculada à práxis do sujeito. A curiosidade está associada à açãoe à reflexão dos “sujeitos comunicantes” e é nessa relação dialética que serealiza a indagação. No fundo, a curiosidade é uma pergunta (FREIRE;FAUNDEZ, 2002, p. 46). A pergunta, nesse sentido, é indispensável aoprocesso educativo, não como objeto de respostas do professor, mas naqualidade de codificação da realidade que constitui novo elemento mediadorentre sujeitos que se propõe a conhecer. Perguntas que se colocam comodesafios dentro da situação gnosiológica surgem em ambiente de liberdade ede criatividade. Na educação bancária, prática educativa que coíbe acuriosidade e teme a manifestação das perguntas, o educador age comonarrador de conteúdos, doador de respostas previamente elaboradas e prontaspara ser memorizadas, dificultando o pensar certo, autêntico e crítico doeducando. O pensar crítico qualifica a pergunta como meio de transformar arealidade e humanizar as relações socais. Portanto, “quanto mais crítico, maisdemocrático [...] quanto menos crítico, mais ingenuamente discutimos osassuntos” (FREIRE, 2006, p. 103).Freire, no entanto, enfatiza a necessidade de superar a curiosidadeingênua. Ele convoca a reaprender a perguntar, pois são as perguntas queorientam a busca e a elaboração de resposta, e não o contrário. Portanto, o

PERGUNTA

Cristóvão Domingos de Almeida e Danilo R. Streck

A pergunta constitui o centro da “concepção problematizadora da

educação” que, em Pedagogia do oprimido, Paulo Freire contrapõe à

“concepção bancária da educação”. A primeira se caracteriza pela abertura do

ser humano ao mundo e ao outro, enquanto a segunda se funda numa postura

“fixista” ou “imobilista” (FREIRE, 2005, p. 83). A própria humanização,

colocada como meta na pedagogia freiriana, tem como pressuposto a

condição de homens e mulheres se colocar a si mesmos como problema e a

constantemente redescobrir o seu “posto no cosmo” (FREIRE, 2005, p. 31).

A pergunta parte da curiosidade, sem a qual não pode haver verdadeira

produção do conhecimento. Freire a compreende como uma dimensão

ontológica, vinculada à práxis do sujeito. A curiosidade está associada à ação

e à reflexão dos “sujeitos comunicantes” e é nessa relação dialética que se

realiza a indagação. No fundo, a curiosidade é uma pergunta (FREIRE;

FAUNDEZ, 2002, p. 46). A pergunta, nesse sentido, é indispensável ao

processo educativo, não como objeto de respostas do professor, mas na

qualidade de codificação da realidade que constitui novo elemento mediador

entre sujeitos que se propõe a conhecer. Perguntas que se colocam como

desafios dentro da situação gnosiológica surgem em ambiente de liberdade e

de criatividade. Na educação bancária, prática educativa que coíbe a

curiosidade e teme a manifestação das perguntas, o educador age como

narrador de conteúdos, doador de respostas previamente elaboradas e prontas

para ser memorizadas, dificultando o pensar certo, autêntico e crítico do

educando. O pensar crítico qualifica a pergunta como meio de transformar a

realidade e humanizar as relações socais. Portanto, “quanto mais crítico, mais

democrático [...] quanto menos crítico, mais ingenuamente discutimos os

assuntos” (FREIRE, 2006, p. 103).

Freire, no entanto, enfatiza a necessidade de superar a curiosidade

ingênua. Ele convoca a reaprender a perguntar, pois são as perguntas que

orientam a busca e a elaboração de resposta, e não o contrário. Portanto, o

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