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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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da educação, a incidência da ação transformadora dos homens, de que resulte

a sua humanização” (p. 86). Hoje, a partir dessa ética pedagógica, pode-se

contrapor o conceito de humanização à noção dominante da globalização dos

mercados.

O Capítulo III apresenta conceitos estratégicos: diálogo, tema gerador

e função pedagógica do partido político. Existir é pronunciar o mundo de

tal modo que “dizer a palavra verdadeira seja transformar o mundo” (p. 91).

A relatividade do conhecimento vincula-se à garantia absoluta da liberdade

dos sujeitos que é, ao mesmo tempo, relativa à situação política. É como se

pudéssemos ver a liberdade apenas pelas costas, indo atrás dela, sem vê-la

face a face. O diálogo cognoscente pressupõe a pesquisa sobre o “universo

temático do povo ou o conjunto de seus temas geradores” (p. 106). O critério

de escolha dos temas é sua capacidade para gerar “situações-limites” e de

incidir nos “atos-limites” através dos quais o oprimido realiza o trânsito para

uma nova consciência (p. 107) mais liberta. A “superação não se faz no ato

de consumir idéias, mas no de produzi-las e de transformá-las na ação e na

comunicação” (p. 119). É o sentido dos “temas dobradiça” (p. 136) que

propiciam o diálogo das pessoas e dos próprios temas entre si, entre os quais

está o conceito antropológico de cultura. Como repensar o currículo nessa

perspectiva?

O Capítulo IV desenvolve a teoria da ação dialógica decorrente dessa

antropologia cultural. A liderança política não “pode temer as massas”, sua

forma de expressar-se e “sua participação efetiva no poder”, pelo contrário,

deve “prestar-lhes conta. De falar de seus acertos, de seus erros, de seus

equívocos, de suas dificuldades” (p. 149). A ética republicana de “unidade na

diversidade” reconhece “as diferenças entre pessoas, grupos, etnias” (FREIRE,

1995, p. 68) pela “mediação da ação transformadora de ambos” (1982, p.

150). A unidade popular decorre da pluralidade inerente à diversidade das

formas de Ser-Mais, verdadeira vocação ontológica. A política popular

estimula as “potencialidades das massas”, confia que “são capazes de se

empenhar na busca de sua libertação, mas há de desconfiar, sempre

desconfiar, da ambigüidade dos homens oprimidos” (p. 199). É conveniente

recuperar essa noção de confiança desconfiada, na construção de projetos

político-pedagógicos que atentem para uma das finalidades da educação:

preparar “para o exercício da cidadania” (LDBEN, Art. 2º).

Referências: FREIRE, Paulo. À sombra desta mangueira. São Paulo: Olho d’Água, 1995;

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