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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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buscar amadurecer e qualificar seus conhecimentos! A autonomia pressupõe

uma concepção emancipatória de educação.

Torna-se autônomo quem constrói em si mesmo a capacidade de impor a

lei a si mesmo, de fazer da lei (nomos, no grego) uma qualidade de si mesmo

e em si próprio (autos). O sujeito aprende quando passa da heteronomia para

a autonomia, isto é, quando se emancipa a si mesmo. O ato de ensinar

propicia aos educandos essa construção, ao articular “a experiência profunda

de assumir-se. Assumir-se como ser social e histórico, como ser pensante,

comunicante, transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva

porque capaz de amar”. Propõe que o sujeito da educação seja “capaz de

reconhecer-se como objeto. A assunção de nós mesmos não significa a

exclusão dos outros. É a ‘outredade’ do ‘não eu’, ou do tu, que me faz

assumir a radicalidade do meu eu” (FREIRE, 2000, p. 46). Ensinar, nessa

perspectiva emancipatória, é socializar-se de modo digno e justo na

comunidade dos iguais.

Por outro lado, o conhecimento tem limites. A educação ajuda o sujeito a

perder a ilusão da onipotência. Ninguém sabe tudo e ninguém ignora tudo.

Sujeito é quem precisa aprender. O conhecimento que liberta, produz nos

docentes e discentes uma autoconcepção antropológica pela qual reconhecem

seu “inacabamento” e incapacidade de tudo conhecer. Freire crê no ser

humano como “ser inacabado, incompleto, não sabe de maneira absoluta.

Somente Deus sabe de maneira absoluta” (FREIRE, 1988, p. 28). A tese

ontológica acerca do “inacabamento do ser ou sua inconclusão é próprio da

experiência vital” (FREIRE, 2000, p. 55).

Essa ética tem base científica, além de bases ideológicas e políticas. A

relação entre cultura e tempo molda o ser no mundo, pois quanto “mais

cultural é o ser maior a sua infância, sua dependência de cuidados especiais”

(FREIRE, 1998, p. 56). Essa tese remete a Piaget no texto “Problemas de

Psicologia Genética”: “O tempo e o desenvolvimento intelectual da criança”

parte do “papel necessário do tempo no círculo vital. Todo desenvolvimento

– psicológico como biológico – supõe a duração, e a infância dura tanto mais

quanto mais superior for a espécie”. A “infância de uma criança” é mais

longa “porque ela tem muito mais coisa para aprender” (PIAGET, 1978, p.

211). Educação é dar-se ao tempo longo de formação de um ser humano

autônomo, capaz de transformar-se ao transformar o mundo.

Referências: FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 14. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988;

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