Dicionario-Paulo-Freire-versao-1
PÁSCOAFernando Torres MillánPaulo Freire teve a consciência e o privilégio de viver o nascimento deum novo tempo de profundas transformações da sociedade e,simultaneamente, a tensão por causa de um tempo velho que resistia emmorrer. Isso é o que ele chama de “época transicional”, intensamentecambiante e dramaticamente contraditória. O Brasil está mudando. Estádeixando de ser uma sociedade pré-moderna, semifeudal, antidemocrática,cujas maiorias, oprimidas e submetidas a uma elite dominante, não têmconsciência de sê-lo nem vontade e capacidade de transformá-la e setransformar. Está emergindo uma nova sociedade onde os seres humanos,através de sua ação e reflexão, se fazem sujeitos de si mesmos e da história,rompem a “cultura do silêncio”, morrendo para ela, e recuperam a palavrapronunciadora-transformadora do mundo, renascendo. É a sociedadedemocrática e descolonizada que se esforça para se desdobrar plenamente nahistória.A consciência da mudança epocal marcará profundamente toda a obra deFreire. Ele concebe o ser humano como cambiante, inacabado,permanentemente sendo, por isso mesmo, educável. Igualmente a educaçãose definirá segundo sua intencionalidade; ou será domesticadora, se formarseres humanos fechados para a mudança e a transformação (opressão), ouserá libertadora, se formar sujeitos livres e comprometidos com atransformação social (libertação); é a educação como prática da liberdade.Quem educa também viverá nesta tensão. Será uma educadora ou umeducador para a opressão ou para a libertação. Quem é educado ou educada, oserá como objeto vazio e passivo a ser preenchido de conteúdos ou comosujeito ativo que, ao expulsar de si o opressor interiorizado, alcança aautonomia, a liberdade e a capacidade crítico-criativa.Conceber a vida humana e a ação educativa no horizonte da mudança éuma construção ideológica de profundas e diversas raízes que impactaram naformação docente de Freire. O cristianismo, assumido a partir do catolicismode sua mãe, será uma dessas raízes que, agitada pelos ventos de renovaçãodos anos 50 e 60, influirá decisivamente em suas opções éticas e políticas. O
conceito de “páscoa” do judeo-cristianismo está no pano de fundo daconcepção de “mudança” da pedagogia freiriana. Trata-se da passagemsaída-saltoda opressão egípcio-cananeia desumanizante para a liberdade da“terra prometida” através de uma práxis de resistência, organização, luta,risco que levará finalmente à articulação de diversas expressões sociaisantifaraônicas. A ação educativa libertadora é aquela que, no ÊXODO, comomovimento social e espiritual nucleante, produz uma subjetividade coletivacapaz de, não somente confrontar a ideologia imperial, mas, além disso,produzir uma diferença contrastante, “outra”, mediante a sociedade tribaligualitária que conhecemos pelo nome de “terra prometida”. Páscoa é apassagem de condições de vida sub-humanas para condições de vida maishumanas, onde quer que esta experiência fundacional da fé de Israel seatualize, a partir de novas situações de opressão confrontadas por novosmovimentos de rebeldia e emancipação.Em seu livro Educação como prática de liberdade (1981), Freire propõeo emergir do povo mediante uma educação que lhe ofereça “a reflexão sobresi mesmo, sobre seu tempo, sobre suas responsabilidades, sobre seu papel nanova cultura da época de transição”, dotando-o de consciência crítica,compromisso com a existência, poder criador, participação democrática,responsabilidade social e política. Ele chega a afirmar que “a própria essênciada democracia inclui uma nota fundamental, que lhe é intrínseca: amudança”; por isso, a ação educativa terá que formar seres humanos que, emdemocracia, possam viver em permanente mudança e com senso crítico.Assim, para uma maior humanidade, mais democracia e para uma maiordemocracia, maior criticidade. A educação para a democracia “não podetemer o debate, a análise da realidade, não pode fugir da discussão criadora,sob pena de ser uma farsa”. Como realizar esta educação?, pergunta-se Freire.É quando ele propõe o método dialógico, porquanto tem como base adiscussão sobre os seres humanos e suas possibilidades de mudança, a partirda qual se geram o conhecer, o poder, o agir. As pessoas que eram objetos demanipulação e massificação renascem para uma nova humanidade comosujeitos de ação e de criação. Na Pedagogia do oprimido, Freire desenvolveamplamente a superação da contradição opressores-oprimidos através de umprocesso de libertação dos oprimidos que considera eminentementepedagógico. Nele se verifica a plena vocação do ser humano na permanentebusca de ser mais. Por isso, a libertação é humanização, experiência em que
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conceito de “páscoa” do judeo-cristianismo está no pano de fundo da
concepção de “mudança” da pedagogia freiriana. Trata-se da passagemsaída-salto
da opressão egípcio-cananeia desumanizante para a liberdade da
“terra prometida” através de uma práxis de resistência, organização, luta,
risco que levará finalmente à articulação de diversas expressões sociais
antifaraônicas. A ação educativa libertadora é aquela que, no ÊXODO, como
movimento social e espiritual nucleante, produz uma subjetividade coletiva
capaz de, não somente confrontar a ideologia imperial, mas, além disso,
produzir uma diferença contrastante, “outra”, mediante a sociedade tribal
igualitária que conhecemos pelo nome de “terra prometida”. Páscoa é a
passagem de condições de vida sub-humanas para condições de vida mais
humanas, onde quer que esta experiência fundacional da fé de Israel se
atualize, a partir de novas situações de opressão confrontadas por novos
movimentos de rebeldia e emancipação.
Em seu livro Educação como prática de liberdade (1981), Freire propõe
o emergir do povo mediante uma educação que lhe ofereça “a reflexão sobre
si mesmo, sobre seu tempo, sobre suas responsabilidades, sobre seu papel na
nova cultura da época de transição”, dotando-o de consciência crítica,
compromisso com a existência, poder criador, participação democrática,
responsabilidade social e política. Ele chega a afirmar que “a própria essência
da democracia inclui uma nota fundamental, que lhe é intrínseca: a
mudança”; por isso, a ação educativa terá que formar seres humanos que, em
democracia, possam viver em permanente mudança e com senso crítico.
Assim, para uma maior humanidade, mais democracia e para uma maior
democracia, maior criticidade. A educação para a democracia “não pode
temer o debate, a análise da realidade, não pode fugir da discussão criadora,
sob pena de ser uma farsa”. Como realizar esta educação?, pergunta-se Freire.
É quando ele propõe o método dialógico, porquanto tem como base a
discussão sobre os seres humanos e suas possibilidades de mudança, a partir
da qual se geram o conhecer, o poder, o agir. As pessoas que eram objetos de
manipulação e massificação renascem para uma nova humanidade como
sujeitos de ação e de criação. Na Pedagogia do oprimido, Freire desenvolve
amplamente a superação da contradição opressores-oprimidos através de um
processo de libertação dos oprimidos que considera eminentemente
pedagógico. Nele se verifica a plena vocação do ser humano na permanente
busca de ser mais. Por isso, a libertação é humanização, experiência em que