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PARTIDO POLÍTICO

Evaldo Pauly

Freire filiou-se ao Partido dos Trabalhadores em 10/02/80. A ata13 de

fundação do PT registra-o entre os “seis primeiros signatários do manifesto”.

Em 89, assumiu a Secretaria de Educação da Prefeitura de São Paulo, da qual

se exonerou em maio de 91. Creio que em 96, numa carta de apoio a Luiza

Erundina, sintetizou sua posição partidária: “O P.T é um partido de mulheres

e de homens e não de anjos, que não fazem política” (FREIRE, 2006, p. 318).

Sua filiação partidária não foi ingênua!

O senso comum do magistério aceita que a educação visa ao “preparo

para o exercício da cidadania” (LDB, art. 2º). Na prática, esse exercício é, no

mínimo, o direito de votar e ser votado. Na democracia representativa, tal

direito é controlado pelos partidos; todavia, o senso comum, corretamente,

rejeita partidarizar a educação. Como resolver esse impasse?

Freire parte de uma ética política abstrata contrária ao senso comum: “os

partidos progressistas” não se justificam por suas obras ou programas de

governo, mas por sua fidelidade “a princípios fundamentais e coerentes com

os sonhos proclamados”. A política de esquerda não aceita “um processo

utilitário”, e, se for este o caso, Freire prefere “perder uma eleição” (2000, p.

127-128). Apesar dessa postura antiburocrática, Freire aceita a concepção

tradicional da esquerda: a tarefa do partido é “empenhar-se na busca da

organização consciente das classes oprimidas para que, superando o estado de

‘classe em si’, se assumam como ‘classe para si’”. O partido educa a

consciência de classe superando a “tendência reformista” dos oprimidos

(FREIRE, 1981, p. 137).

A tarefa educativa do partido foi analisada nas Cartas à Guiné-Bissau,

quando Freire (1978) acompanhou a implantação de um projeto nacional de

educação a partir da conquista do poder por um partido revolucionário. No

Brasil, o “problema, para nós do PT” seria o de “vencer as classes

dominantes” e convencer as “massas populares” (GADOTTI; FREIRE;

GUIMARÃES, 1995, p. 33). Os dois casos, no entanto, exigem relações

democráticas entre o partido e as classes sociais de modo que o partido se

recrie e se reinvente “na radicalidade em torno de seus sonhos”, evitando ser

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