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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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poder”, do processo produtivo, o trabalho educacional do partido, em suma, a

experiência africana de libertação pela via socialista, radicalizam o

pensamento de Freire. Nessa trajetória, Freire e os integrantes do Instituto de

Ação Cultural (IDAC) contribuem com o projeto contra-hegemônico dos

guineenses, inspirados nas bases teóricas marxistas, especialmente das teses

gramscianas que conectam educação e política.

Focalizando este esforço de mudança em Cartas à Guiné-Bissau (1980a),

Freire escreve:

A transformação radical do sistema educacional herdado do colonizador

exige um esforço interestrutural, quer dizer, um trabalho de

transformação em nível da infra-estrutura e uma ação simultânea em

nível de ideologia. A reorganização do modo de produção e o

envolvimento crítico dos trabalhadores numa forma distinta de educação,

em que mais que adestrados para produzir, sejam chamados a entender o

próprio processo de trabalho. (p. 21)

Enfatize-se a importância dada ao trabalho como fonte e contexto de

educação. Destarte, a alfabetização, parte inicial da implantação da educação

transformadora, representaria uma “sistematização do conhecimento dos

trabalhadores rurais e urbanos alcançam em decorrência de sua atividade

prática”. Aproxima-se o trabalho produtivo da educação até o momento em

que “já não se estuda para trabalhar, nem se trabalha para estudar, estuda-se

ao trabalhar”, como coloca Freire. Unifica-se, o contexto “teórico”

(educativo) e o contexto “concreto” (a atividade produtiva).

Por outro lado, a reinvenção da estrutura social, política, econômica,

cultural – organizada e dirigida pelo PAIGC – e a reflexão sobre esta prática

revolucionária, como teoria, mostram, mais uma vez, a importância do

entendimento da relação entre a atividade política e a educativa. Sem dúvida,

confirmam-se as colocações de Freire, desde a Pedagogia do oprimido, sobre

a pedagogicidade da revolução. A própria batalha da transformação social é

tratada como prática pedagógica, educativa. A nova hegemonia se faz,

necessariamente, enquanto relação pedagógica, diria Gramsci.

Com efeito, a revolução guineense e a implantação do socialismo

constituem, para Freire e para todos os educadores participantes, o grande

“local” pedagógico. Não seria possível desenvolver qualquer proposta

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