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PARADIGMAS DO OPRIMIDO

José Eustáquio Romão

O termo “paradigmas” – que deve ser usado sempre no plural – remetenos,

imediatamente, à obra de Thomas S. Kuhn, A estrutura das revoluções

científicas (1995), na qual ele os considera como “[...] as realizações

científicas universalmente reconhecidas que, durante algum tempo, fornecem

problemas e soluções modelares para uma comunidade de praticantes de uma

ciência” (p. 13). Um paradigma, para ele, é, por isso, constituído por

realizações científicas passadas que são reconhecidas, pelas hegemônicas

comunidades do conhecimento, como fundamentos, como referenciais, para

as pesquisas e os estudos que fazem.

Ele acrescenta, mais adiante, na mesma obra: “Homens cuja pesquisa está

baseada em paradigmas compartilhados estão comprometidos com as

mesmas regras e padrões para a prática científica” (p. 30).

Quando se fala em “paradigmas do oprimido”, como mais uma concepção

das que mais fortemente podem ser deduzidas11 do legado teórico de Paulo

Freire, o sentido do termo “paradigmas” seria o mesmo de Kuhn? A resposta

é “não” e “sim”.

É “não” no sentido de que Thomas Kuhn considera que os paradigmas

são substituídos, nas chamadas “revoluções paradigmáticas”, por uma disputa

meramente gnosiológica, ou seja, um paradigma perde valor diante de outro

com maior poder explicativo; a teoria freiriana, por outro lado, atribui a

hegemonia das formulações gnosiológicas e epistemológicas à correlação de

forças históricas. Em termos mais simples, para a concepção freiriana, um

paradigma torna-se referência em determinada época não apenas por questões

internas à ciência, mas, em geral, pela superioridade econômica, política e

militar de seus defensores. A hegemonia das categorias e dos conceitos do

pensamento euro-americano, por exemplo, no Ocidente, é muito mais o

resultado de uma dominação colonial do de uma comprovada superioridade

gnosiológica em relação aos paradigmas das culturas que foram e são

silenciadas por sua dominação aparentemente epistêmica. Assim, em vez de

se falar em epistemologias, dever-se-ia falar em Geopolítica do

Conhecimento (ROMÃO, 2008).

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