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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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PALAVRA/PALAVRAÇÃO

Cristóvão Domingos de Almeida e Danilo R. Streck

No relato bíblico da criação a palavra divina tem um poder criativo. A

palavra encarnada, na tradição judaico-cristã, é condição de vida. Paulo

Freire, filiado a esta tradição, insiste na atuação político-educativa em que

aprender a ler é aprender a dizer a sua palavra. E a palavra humana, tal qual a

palavra divina, é criadora. Para ele, a nossa existência “não pode ser muda,

silenciosa, nem tampouco pode nutrir-se de falsas palavras, mas de palavras

verdadeiras, com que os homens transformam o mundo” (FREIRE, P., 2005, p.

90). A palavra autêntica mantém o contínuo diálogo entre a prática e a teoria,

entre ação e ação e reflexão, entre anúncio e denúncia.

Ele denunciou as diversas facetas da palavra que mantém o sujeito mudo

e sob o jugo da opressão. Palavra vazia, fácil, oca, inautêntica, ativista,

mágica, ingênua... uma a uma, nas obras freirianas, foram desveladas como

palavras que impossibilitam o diálogo e não geram compromissos com a

mudança de vida do Outro. O contexto destas palavras é a desconfiança na

capacidade do sujeito de “pensar certo, de querer e de saber” (2005, p. 53) e,

como são discursos vazios, não geram criticidade, pois, “críticos seremos se

vivermos a plenitude da práxis” (2005, p. 148).

Ao fazer a radiografia do conceito nas obras de Freire, percebemos que,

de acordo com o momento histórico, o autor o retoma, aprofunda e marca

posição, principalmente quando o relaciona com a educação. A “própria

posição da escola, de modo geral é acalentada pela sonoridade da palavra,

memorização dos trechos [...] posição caracteristicamente ingênua” (p. 102 e

103). Freire deixa claro que a palavra autêntica contrapõe-se ao discurso da

acomodação e “da impossibilidade da mudança” (2000, p. 40). A palavra

transforma a relação eu-tu, A com B, para a construção processual do nós, do

coletivo.

Sendo pronúncia do mundo, a palavra compreende o anúncio e a

denúncia. Ao exercer a possibilidade de dizer a sua palavra o ser humano,

que é um ser da intervenção no mundo, “deixa suas marcas de sujeito e não

pegadas de puro objeto” (p. 119). É característica da educação bancária o

palavreado desvinculado da ação. Na concepção da educação bancária – que

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