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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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resumo, opressores e oprimidos” (MARX; ENGELS, 1998, p. 40).

A convicção de que oprimido e opressor são conceitos próprios da teoria

de classes permanece presente mesmo na produção freiriana do último

período. Em 1992, numa retomada de sua magnum opus, Freire rebate as

acusações de que o conceito de oprimido fosse vago ou estranho ao conceito

de classe social. Chega mesmo a ironizar seus detratores, julgando

[...] impossível que, após a leitura da Pedagogia do oprimido, empresários

e trabalhadores, rurais ou urbanos, chegassem à conclusão, os primeiros,

de que eram operários, os segundos, empresários. E isso porque a

vaguidade do conceito de oprimido os tivesse deixado de tal maneira

confusos e indecisos que os empresários hesitassem em torno de se

deveriam ou não continuar a usufruir a “mais valia” e os trabalhadores

em torno de seu direito à greve, como instrumento fundamental à defesa

de seus interesses. (Freire, 1999, p. 89)

Depois disso, segue Freire sempre se referindo ao opressor “como

indivíduo e como classe” e ao oprimido “como indivíduo e como classe”

(FREIRE, 1999, p. 99-100).

Outro aspecto de grande relevância com relação aos opostos

oprimido/opressor é que ambos encontram-se impedidos de ser plenamente

humanos. A relação de opressão obstrui a vocação histórica dos homens de

ser mais. “A desumanização, que não se verifica apenas nos que têm sua

humanidade roubada, mas também, ainda que de forma diferente, nos que a

roubam” (FREIRE, 2002, p. 30). O opressor desumaniza-se no ato da opressão,

enquanto o oprimido é desumanizado pela realidade objetiva da opressão e

pela internalização da imagem do opressor que o faz um ser duplo. Assim, é

o opressor oprimindo ou, se quisermos, a opressão do opressor que

impossibilita não só a humanização do oprimido, mas também frustra sua

própria vocação de ser mais.

É por isso que o opressor se desumaniza ao desumanizar o oprimido, não

importa que coma bem, que vista bem, que durma bem. Não seria

possível desumanizar sem desumanizar-se tal a radicalidade social da

vocação. Não sou se você não é, não sou, sobretudo, se proíbo você de

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