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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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OPRIMIDO/OPRESSOR

Avelino da Rosa Oliveira

São os polos opostos das relações sociais de antagonismo.

Fundamentalmente, oprimidos e opressores são classes sociais antagônicas e

em luta. No entanto, é possível que se instaurem relações de opressão entre os

próprios oprimidos. Enquanto seres envoltos em relação de dominação, tanto

oprimidos quanto opressores têm sua vocação ontológica negada pela

realidade histórica de opressão que funda suas existências. Só a práxis

libertadora do oprimido é capaz de superar a opressão e restaurar a

humanidade de ambos.

O primeiro aspecto a considerar, e que mais profundamente caracteriza

tanto oprimidos quanto opressores, é o fato de serem classes sociais. Os

homens reais e concretos relacionam-se “enquanto classes que oprimem e

classes oprimidas” (FREIRE, 2002, p. 126). Na relação dialética em que se

encontram, é imperioso, pois, reconhecer o “antagonismo indisfarçável que

há entre uma classe e outra” (FREIRE, 2002, p. 141). Deste modo, o processo

de conscientização só alcançará o estágio propriamente crítico quando o

oprimido identificar-se como classe. “A consciência crítica dos oprimidos

significa, pois, consciência de si, enquanto ‘classe para si’” (FREIRE, 1979, p.

48).

Essa caracterização de oprimidos e opressores como classes sociais não

pode ser compreendida como apartação da teoria marxiana. No Manifesto do

Partido Comunista, Marx & Engels resumem a luta de classes como, em

geral, a oposição exatamente entre opressores e oprimidos. Em diferentes

tempos históricos, tal oposição se dá entre classes específicas de diferentes

formações socioeconômicas. Assim, na tipificação capitalista, a luta de

classes desenrola-se entre a burguesia e o proletariado. Ao não empregar

estes termos, porém, Freire não se afasta de Marx, apenas reconhece que as

sociedades terceiro-mundistas das últimas décadas do século XX

apresentavam um grau de complexidade que exigia os termos gerais –

oprimido e opressor – empregados por Marx para referir-se à luta de classes,

presente através de toda a história humana. “Homem livre e escravo, patrício

e plebeu, senhor feudal e servo, mestre de corporação e companheiro, em

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