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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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o mero treinamento. É por isso que o educador progressista, capaz e

sério, não apenas deve ensinar muito bem sua disciplina, mas desafiar o

educando a pensar criticamente a realidade social, política e histórica em

que é uma presença. (p. 43-44)

No entanto, o que Paulo Freire mais criticou no discurso e nas propostas

neoliberais foi seu fatalismo, isto é, uma espécie de “naturalização terminal”

da sociedade neocapitalista, no sentido de que ela não terá sucedâneas e,

portanto, as classes não favorecidas por ela terão que conformar-se às suas

imposições. Paulo Freire, porém, não fica apenas na denúncia discursiva, mas

demonstra as “oportunidades históricas”, ou seja, não somente a possibilidade

de mudança, mas sua potencialização pelas contradições que ocorrem no

processo histórico:

Se os sem-terra tivessem acreditado na “morte da história”, da utopia, do

sonho; no desaparecimento das classes sociais, na ineficácia dos

testemunhos de amor à liberdade; se tivessem acreditado que a crítica ao

fatalismo neoliberal é a expressão de um “neobobismo” que nada

constrói; se tivessem acreditado na despolitização da política, embutida

nos discursos que falam de que o que vale hoje é “pouca conversa, menos

política e só resultados”, se, acreditando nos discursos oficiais, tivessem

desistido das ocupações e voltado não para suas casas, mas para a

negação de si mesmos, mais uma vez a reforma agrária seria arquivada.

(Freire, 2000, p. 60-61)

Ao mencionar o “neobobismo”, Paulo Freire certamente quis relembrar a

expressão de um intelectual que fora de esquerda e que aderira ao

neoliberalismo, mas, ao mesmo tempo, sentia-se desconfortável com a opção

feita. Essa espécie de “Neoliberalismo envergonhado” é o que mais chamava

a atenção de Freire. Ele chegou a afirmar que esta atitude lhe deixava mais

perplexo do que a queda do muro de Berlim (FREIRE, 2000, p. 95), ou o

próprio fenômeno da globalização da economia.

Em conclusão, Paulo Freire considerou, em quase todas as suas obras da

década de 1990, que o Neoliberalismo é mais que um mero discurso; é uma

ideologia. Ou seja, é a visão de mundo contemporânea das classes

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