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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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MUNDO

Balduino Andreola

Podemos considerar esta palavra expressão de um dos grandes temas

geradores da obra de Freire. Num dos seus muitos livros dialogados,

Alfabetização (1990), esta palavra aparece no subtítulo: leitura do mundo –

leitura da palavra, expressando um binômio linguístico e epistemológico

muito frequente nas falas e escritos de Freire. No livro A importância do ato

de ler (p. 22), tendo falado várias vezes dessa relação, diz que a retoma, “pela

significação que tem para a compreensão crítica do ato de ler e,

consequentemente, para a proposta de alfabetização”, e declara: “Refiro-me a

que a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta

implica a continuidade da leitura daquela”. No mesmo livro (p. 30), a palavra

aparece numa ótica fenomenológico-existencial, na profunda densidade

ontológica que Freire lhe atribui, ao definir o ser humano: “Cada um de nós é

um ser no mundo, com o mundo e com os outros”. Mas é na obra clássica,

Pedagogia do oprimido (FREIRE, 2007), que ele nos surpreende com um

“mundo” de significados que a palavra mundo assume. Um dos subtítulos do

cap. 3 (p. 100) é este: “As relações homem-mundo, os temas geradores e o

conteúdo programático da educação”. Na p. 97 Freire escreve: “A educação

autêntica [...] não se faz de A para B ou de A sobre B, mas de A com B,

mediatizados pelo mundo”. Referindo-se ao contexto colonial no qual estão

imersos muitos trabalhadores, ele os considera “quase umbilicalmente ligados

ao mundo da natureza”. Na p. 98, declara que a “visão de mundo” dos que

promovem uma educação bancária não corresponde necessariamente à visão

do povo. Segundo ele (p. 100) “a visão de mundo” reflete a “situação no

mundo” em que as pessoas se constituem. No cap. 4 do livro Educação como

prática da liberdade, Freire discorre sobre o conceito antropológico de

cultura. E os dez quadros apresentados em Anexo ao livro destinavam-se à

discussão deste conceito por parte dos alfabetizandos, podendo eles descobrir

assim que, com seu trabalho, transformavam o “mundo da natureza” em

“mundo da cultura”. Essa temática é amplamente aprofundada em Pedagogia

do oprimido. Para o animal, o mundo é apenas suporte (p. 103). Para o

homem, o mundo é contexto de sua existência (ex-sistência), e ele

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