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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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desconsidera que ele tenha se apressado em tornar sua linguagem mais

equitativa e atualizada. Esse mesmo autor traz a opinião de Bell Hooks que,

nesse mesmo livro, se declara a favor de Freire dizendo: “Tudo seria

diferente para mim se ele tivesse tentado silenciar ou diminuir a crítica

feminista”, diz ela (HOOKS, 1993 apud LOCKHART, 1996, p. 63).

Houve sim uma abertura de Freire para esse tema e que pode ter

contribuído nas argumentações posteriores para pensar questões da liberdade

humana, dignidade e autonomia. Proponho algumas reflexões com o que

temos a partir do texto base já referido (FREIRE, 1992).

Compreendendo as relações de gênero como a construção cultural das

aprendizagens de ser homem e de ser mulher, de como se relacionam entre si

e entre seus pares é que vamos tentar produzir esse verbete. E, quando Freire

questiona, por exemplo, “por que os homens não se acham incluídos quando

dizemos: ‘as mulheres estão decididas a mudar o mundo’?” (1992, p. 67). O

que está implícito nesse estranhamento? Segundo Graciela Hierro (2001) o

gênero feminino é diferente e registrado como inferior em todos os espaços

que supõe hierarquias. O diferente é o que é inferior, pecaminoso, mal. Desde

os relatos bíblicos – Eva, no Antigo Testamento; passando às narrativas de

Hesíodo no Trabalho e os dias – Pandora, as primeiras mulheres são descritas

como o problema, a praga, o castigo dos homens (MARQUETTI, 2007).

Na tradição ocidental cristã teremos uma nova mulher para compor o

novo homem em Cristo. Será Maria, a mulher virtuosa, imaculada,

instrumento de Deus. Virgem e mãe. A maternidade passa a ser sinônimo do

feminino bom. A mulher boa é santa. E a santidade passa a ser representada

na maternidade (e não é qualquer maternidade como lembra Marcela Lagarde

y de Los Rios, 2005) e na virgindade/castidade. Já a mulher má está

intimamente relacionada com Eva, satanás, Maria Madalena. O corpo sensual

e a ideia de prazer carnal está para Eva enquanto o sacrifício e a doação está

para Maria. Ivone Gebara (2000) caracteriza a fenomenologia do mal

feminino construído no argumento da teologia cristã androcêntrica.

Freire, como um homem sensível e atento às injustiças, conseguiu dentro

de suas possibilidades epistemológicas e escolhas de leituras de teóricos e de

mundo enfatizar o caminho da dignidade de sermos mais humanos. E esse é o

legado dentro do qual acredito podermos ampliar seus argumentos e dialogar

trazendo diversidades que dignifiquem o ser e o estar no mundo. Dessa forma

toda a experiência de argumentar pela autonomia e liberdade da pessoa

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