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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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MULHER/HOMEM (Relações de gênero, relações

dignas)

Edla Eggert

Poderia-se dizer que o tema das relações de gênero na base conceitual dos

escritos de Paulo Freire aparece pouco. Porém, existe uma reflexão que pode

ser identificada como fazendo parte dessa temática em seu livro A pedagogia

da esperança (1992, p. 66-68). Freire desenvolve a questão ideológica do uso

da linguagem machista inclusive por ele mesmo. Nessa passagem relembra

que, no final do ano de 1970 e início de 1971, recebeu “um sem-número” de

cartas de mulheres norte-americanas que observavam sua linguagem sexista,

centralizando em todo o texto o uso da palavra homem. Nessa narrativa ele

descreve o quanto ficou irritado no início com esse tipo de carta, afinal,

quando escrevia Homem, subentendia que mulheres estavam incluídas. Paulo

Freire faz um depoimento de mudança de conceito e de prática na sua postura

do uso da linguagem sexista para uma linguagem inclusiva. E isso, segundo

ele, não era para agradar as leitoras norte-americanas, mas por buscar

incansavelmente ser coerente com o que anunciava. Lamentável que, nessa

quantidade indeterminada de cartas recebidas, ele não tenha se lembrado de

nenhum nome de alguma leitora/autora. Freire aponta um débito para com

essas mulheres feministas que o convenceram de que existe uma realidade

patriarcal anunciada em todos os espaços da vida humana.

Um ano depois de ter escrito A pedagogia da esperança (1992) é lançado

um livro sistematizado por alguns intelectuais do Hemisfério Norte no qual

Freire faz a seguinte afirmação:

Desde os anos 70, aprendi muito do feminismo e cheguei a definir meu

trabalho como feminista, vendo o feminismo como estreitamente ligado

ao processo de auto-reflexividade e ação política pela liberdade humana.

(Freire, 1993 apud Lockhart, 1996, p. 62)

Segundo Lochkart (1996) essa afirmação soou forçada, pois Freire

recebeu muitas críticas de feministas sobre o uso da sua linguagem, mas não

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