Dicionario-Paulo-Freire-versao-1
da palavra como ação transformadora. Cada porta freiriana é uma entradapara ad-mirar a prática, construindo o caminho epistemológico de pensar comas esfarrapadas e os esfarrapados do mundo e lutar para pronunciar outromundo possível: o da justiça, da democracia, da liberdade. Admirar com as eos esfarrapados do mundo é desvelar com elas e eles, nunca para eles, édesocultar a mentira, o engano e a perversão da ética capitalista: a exportaçãodo homem pelo homem, a lei da oferta e da demanda, o anestesiar aconsciência, o fim da história, a demonização dos lutadores e das lutadorassociais.Referências: FREIRE, Paulo. ¿Extensión o comunicación? La concientización en el medio rural. 2.ed. México: Siglo XXI Editores, 1975; FREIRE, Paulo. Pedagogía del oprimido. México: Siglo XXIEditores, 1970; FREIRE, Paulo. Acção cultural para a libertação e outros escritos. Lisboa: Moraeseditores, 1977; FREIRE, Paulo. La importância de leer e el proceso de libertación. México: Siglo XXIEditores, 1974; ESCOBAR, Miguel. Paulo Freire e a prática. Sonhos, utopias e lutas. São Paulo: LíberLivro Editora (em prensa).
AFETIVIDADEAgostinho Mario Dalla VecchiaEm onze obras de Paulo Freire, contando com a primeira edição doDicionário Paulo Freire, não encontramos referência à palavra afetividade.Aparece uma vez em Pedagogia da esperança (1997, p. 70), uma vezamorosidade e afeto em Pedagogia da pergunta, (1998, p. 15), emProfessora sim, tia não, uma vez amorosidade (p. 9) e uma vez afetividade(1997, p. 82), em Pedagogia da indignação, uma vez (na boca doapresentador B. Andreola, 2002, p. 13, com a expressão amorosidade eesperança) e seis vezes em Pedagogia da autonomia (1996, p 20, 52 e 53).São obras da maturidade de Paulo Freire. Pedagogia da autonomia, segundoJosé Lino Hack, pode ser considerado o livro da Sabedor ia de Paulo Freire.Paulo Freire não se detém a explicitar as categorias de afetividade eamorosidade. Ao examinar detalhadamente Pedagogia da autonomia (DALLAVECCHIA, 2007), ela se configura como expressão da densa vivência daafetividade no texto e na prática de seu autor.A concepção biocêntrica de afetividade foi referencial para examinar essaobra. Rolando Toro entende “afetividade” como um estado de afinidadeprofunda com os outros seres humanos, capaz de dar origem a sentimentos deamor, amizade, altruísmo, maternidade, paternidade, solidariedade (TORO,2002, p. 90).Assim como a amorosidade é a característica principal da vida,permeando o universo (TORO, 2002), a afetividade em nós está presente emtodas as dimensões do nosso ser e da nossa ação. O afeto é o dinamismo queestá na origem, no processo, nas estruturas e no significado do conhecimentoe de tudo que somos e fazemos (DALLA VECCHIA, 2005). A afetividadeenvolve a totalidade de nosso ser (TORO, Apostila da Escola de Formação, I.B. F.23).Há uma dimensão do “amor diferenciado”, dirigido a uma só pessoa, e ado “amor indiferenciado” e incondicional dirigido a uma turma em sala deaula, à humanidade (TORO, 2002, p. 89). A unidade afetiva de um grupo dá aele as características de um organismo vivo (CAPRA, 2002). Se olharmos paraos “círculos de cultura”, eles representam a possibilidade de um grupo
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AFETIVIDADE
Agostinho Mario Dalla Vecchia
Em onze obras de Paulo Freire, contando com a primeira edição do
Dicionário Paulo Freire, não encontramos referência à palavra afetividade.
Aparece uma vez em Pedagogia da esperança (1997, p. 70), uma vez
amorosidade e afeto em Pedagogia da pergunta, (1998, p. 15), em
Professora sim, tia não, uma vez amorosidade (p. 9) e uma vez afetividade
(1997, p. 82), em Pedagogia da indignação, uma vez (na boca do
apresentador B. Andreola, 2002, p. 13, com a expressão amorosidade e
esperança) e seis vezes em Pedagogia da autonomia (1996, p 20, 52 e 53).
São obras da maturidade de Paulo Freire. Pedagogia da autonomia, segundo
José Lino Hack, pode ser considerado o livro da Sabedor ia de Paulo Freire.
Paulo Freire não se detém a explicitar as categorias de afetividade e
amorosidade. Ao examinar detalhadamente Pedagogia da autonomia (DALLA
VECCHIA, 2007), ela se configura como expressão da densa vivência da
afetividade no texto e na prática de seu autor.
A concepção biocêntrica de afetividade foi referencial para examinar essa
obra. Rolando Toro entende “afetividade” como um estado de afinidade
profunda com os outros seres humanos, capaz de dar origem a sentimentos de
amor, amizade, altruísmo, maternidade, paternidade, solidariedade (TORO,
2002, p. 90).
Assim como a amorosidade é a característica principal da vida,
permeando o universo (TORO, 2002), a afetividade em nós está presente em
todas as dimensões do nosso ser e da nossa ação. O afeto é o dinamismo que
está na origem, no processo, nas estruturas e no significado do conhecimento
e de tudo que somos e fazemos (DALLA VECCHIA, 2005). A afetividade
envolve a totalidade de nosso ser (TORO, Apostila da Escola de Formação, I.
B. F.23).
Há uma dimensão do “amor diferenciado”, dirigido a uma só pessoa, e a
do “amor indiferenciado” e incondicional dirigido a uma turma em sala de
aula, à humanidade (TORO, 2002, p. 89). A unidade afetiva de um grupo dá a
ele as características de um organismo vivo (CAPRA, 2002). Se olharmos para
os “círculos de cultura”, eles representam a possibilidade de um grupo