Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

silvawander2016
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todos em seu tempo, anteontem, ontem e agora, sonharam e sonham o mesmosonho (FREIRE, 2000, p. 60).Nos últimos escritos, toma o exemplo dos sem-terra, dizendo quedevemos a esse movimento muito mais do que às vezes podemos pensar,destacando seu inconformismo e sua determinação de ajudar ademocratização do País; na mesma oportunidade lança a convocatória para arealização,[...] da marcha dos desempregados, dos injustiçados, dos que protestamcontra a impunidade, dos que clamam contra a violência, contra amentira e o desrespeito à coisa pública. A marcha dos sem-teto, dos semescola,dos sem-hospital, dos renegados. A marcha esperançosa dos quesabem que mudar é possível. (Freire, 2000, p. 61)Também é expressivo o depoimento de Freire na última entrevista que eleproferiu à TV PUC/SP em abril de 1997, dias antes de sua morte. Freireexpressa ali sua felicidade por estar vivendo aquele momento e vendoacontecer as “marchas” de um dos movimentos sociais mais importantes denosso país – o MST. Para corroborar seu apoio e sua solidariedade a essemovimento e a outros que servem de exemplo para o exercício da cidadania eda democratização de nossa sociedade, Freire denuncia, em sua fala nareferida entrevista, os pré-conceitos que, principalmente, a direita e/ou a elitebrasileira têm em relação às classes populares e às lutas dos movimentossociais. Além da denúncia, Freire aponta o significado histórico, para nossopaís, que está na organização das “marchas” que lutam por mais direitossociais e pela democratização, não só política, mas também econômica, denossa sociedade.Referências: FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 12 ed. Rio de Janeiro: Paz eTerra, 1981; FREIRE, Paulo. Educação e mudança. 9 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983; FREIRE,Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: UNESP, 2000;FREIRE, Paulo. Política e educação. São Paulo: Cortez, 1993; FREIRE, Paulo; HORTON, Myles. Ocaminho se faz caminhando: conversas sobre educação e mudança social. Petrópolis: Vozes, 2003;FREIRE, Paulo; NOGUEIRA, Adriano. Que Fazer: teoria e prática em educação popular. Petrópolis:Vozes, 1989; GOHN, Maria da Glória. (Org). Movimentos sociais no início do século XXI – antigos enovos atores sociais. Petrópolis: Vozes, 2003.

MUDANÇA/TRANSFORMAÇÃO SOCIALCênio WeyhNa perspectiva das Ciências Sociais, Mudança e transformação socialsão categorias que se relacionam com a idéia de progresso, estrutura social erevolução.Um olhar panorâmico das teorias de mudança social predominantes nessecampo de conhecimento nos remete aos clássicos do século XIX e XX, comênfase para Augusto Comte e Karl Marx, principais vertentes daqueles queestudam a mobilidade social. O trabalho de Túlio Velho Barreto (2001) trazuma importante contribuição para a compreensão do caráter histórico dasprincipais concepções que abordam as mudanças sociais.Em Paulo Freire, mudança e transformação social assumem um caráter decomprometimento e engajamento nas lutas em favor das causas dosoprimidos. “O compromisso, próprio da existência humana, só existe noengajamento com a realidade, de cujas “águas” os homens verdadeiramentecomprometidos ficam “molhados”, ensopados” (FREIRE, 1983, p. 19).Educação e mudança (1979) é a obra que marca o reencontro de Freirecom a realidade brasileira concreta no pós-exílio. Nesta, o conceito demudança é entendido como “transição, rompimento com o equilíbrio” (p. 33e 47); como “processo constituinte da estrutura social dinâmica” (p. 45) e que“não se dá instantaneamente” (p. 22), mas de forma gradual e lenta naperspectiva cultural. Apresenta-se ainda como “contra-ponto da estabilidade”(p. 46) e ferramenta para “intervir na estrutura social” (p. 51), na medida emque demanda “ação e reflexão para alterar a estrutura social” (p.58),característica da transformação. A transformação é entendida como “um atode criação dos homens” (p. 18) que busca resgatar a visão de totalidade apartir da ação sobre as partes. Transformar “é ser sujeito de sua ação, destinodo homem” (p. 38).Em Pedagogia da autonomia (1996), última obra completa de Freire, eledeixa claro que mudança é mais que assumir discurso: é um direito (p. 37) aser testemunhado, um reconhecimento ao diferente (p. 55); como “resultadode aprendizagem” (p. 77). Mudança implica dialetização, isto é, denúncia epossibilidade de anúncio. “Mudar é difícil, mas necessário e possível” (p. 88).

MUDANÇA/TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Cênio Weyh

Na perspectiva das Ciências Sociais, Mudança e transformação social

são categorias que se relacionam com a idéia de progresso, estrutura social e

revolução.

Um olhar panorâmico das teorias de mudança social predominantes nesse

campo de conhecimento nos remete aos clássicos do século XIX e XX, com

ênfase para Augusto Comte e Karl Marx, principais vertentes daqueles que

estudam a mobilidade social. O trabalho de Túlio Velho Barreto (2001) traz

uma importante contribuição para a compreensão do caráter histórico das

principais concepções que abordam as mudanças sociais.

Em Paulo Freire, mudança e transformação social assumem um caráter de

comprometimento e engajamento nas lutas em favor das causas dos

oprimidos. “O compromisso, próprio da existência humana, só existe no

engajamento com a realidade, de cujas “águas” os homens verdadeiramente

comprometidos ficam “molhados”, ensopados” (FREIRE, 1983, p. 19).

Educação e mudança (1979) é a obra que marca o reencontro de Freire

com a realidade brasileira concreta no pós-exílio. Nesta, o conceito de

mudança é entendido como “transição, rompimento com o equilíbrio” (p. 33

e 47); como “processo constituinte da estrutura social dinâmica” (p. 45) e que

“não se dá instantaneamente” (p. 22), mas de forma gradual e lenta na

perspectiva cultural. Apresenta-se ainda como “contra-ponto da estabilidade”

(p. 46) e ferramenta para “intervir na estrutura social” (p. 51), na medida em

que demanda “ação e reflexão para alterar a estrutura social” (p.58),

característica da transformação. A transformação é entendida como “um ato

de criação dos homens” (p. 18) que busca resgatar a visão de totalidade a

partir da ação sobre as partes. Transformar “é ser sujeito de sua ação, destino

do homem” (p. 38).

Em Pedagogia da autonomia (1996), última obra completa de Freire, ele

deixa claro que mudança é mais que assumir discurso: é um direito (p. 37) a

ser testemunhado, um reconhecimento ao diferente (p. 55); como “resultado

de aprendizagem” (p. 77). Mudança implica dialetização, isto é, denúncia e

possibilidade de anúncio. “Mudar é difícil, mas necessário e possível” (p. 88).

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