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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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modo, filósofo. Para os dois autores, existe uma relação de amizade,

parentesco entre o mito e a filosofia. A fronteira entre eles é muito tênue. Por

isso,

[...] não há uma descontinuidade radical entre razão e mito, justamente

porque são dois níveis estruturais da consciência humana. Os mitos são

indispensáveis, tanto para os indivíduos como para as sociedades.

(Perine, 2002, p. 50)

O mito representa também a projeção da vida social do ser humano;

projeção que reflete as características fundamentais dessa vida social. Sua

função é justificar a realidade assim como ela é. Por isso, os mitos podem

também reforçar a tradição e legitimar estruturas de controle, opressão,

injustiça. Nesse sentido, o mito se aproxima muito da ideologia. Sua intenção

é justificar as condições objetivas do mundo, a realidade histórica, a partir de

um poder transcendente ao qual o mundo e o ser humano estão sujeitos.

Em toda a obra de Paulo Freire, o mito é sempre concebido de modo

negativo, pois o autor relaciona o mito com a ideologia que vela, escamoteia

a verdade, que aliena e manipula; que oculta as contradições, as falácias do

sistema. O mito ajuda a manter os segredos do poder, do controle, da

manipulação. Os mitos-ideologias conduzem a uma visão estreita da

realidade; é o que nos distancia da captação da realidade de modo mais

crítico. Quanto mais nos afastamos da atitude crítica, mais nos aproximamos

da visão mítico-mágica, supersticiosa, ingênua da realidade. A destruição

crítica dos mitos é essencial para a conquista da verdade. O processo de

conscientização, a atitude crítica se torna possível a partir da

desmitologização dos mitos que sustentam estruturas de alienação, opressão.

Para Freire, o mito-ideologia é uma armadilha que tem a ver diretamente

com a ocultação da verdade dos fatos, com o uso da linguagem para

penumbrar ou opacizar a realidade, ao mesmo tempo em que nos torna

“míopes” e nos impede de pensar certo, de criticizar nossa existência. A

função do mito enquanto ideologia é manter a realidade da estrutura

dominante; é deixar a pessoa passiva, acomodada, adaptá-la ao contexto de

modo acrítico, fazendo do ser humano simples objeto a serviço do sistema

opressor. A ideologia opressora faz uso de muitos artifícios para mitificar a

visão de mundo do oprimido para que este aceite passivamente a opressão,

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