Dicionario-Paulo-Freire-versao-1
tradicional, mas em um círculo em que o monitor ocupava um dos lugaresequidistantes de um mesmo centro, e em que todos estavam uns ao lado dosoutros e, nunca, uns atrás de outros e diante de um “professor”, todos erammotivados a participarem de um livre debate, incentivados pela apresentaçãode uma sequência de fichas de cultura. Fichas projetadas ou rusticamentedesenhadas, em que diferentes imagens simples introduziam a ideia de seremas pessoas, logo, serem eles próprios, agentes criadores do mundo de culturaem que viviam. O trabalho do monitor ou do coordenador do grupo eraincentivar um máximo de participações. Propiciar o falarem e o exporem,com as suas palavras, as suas ideias, os seus “pensamentos”, a partir de comointerpretavam os desenhos de cada uma das “fichas de cultura” e, sobretudo,a partir de suas próprias memórias de experiências de vida.A alfabetização propriamente dita começava logo após. Ela prosseguiaum processo ativo e partilhado em que, através do desdobramento de cadauma das escolhidas palavras geradoras em seus fonemas, todos eramincentivados a procurarem trabalhar o processo de decodificação, formandopalavras existentes, “reais” ou não, e procurando integrar palavras em feixesde sentido, em pequenas frases que iam se tornando mais elaboradas ecomplexas ao longo do aprendizado.Todos os procedimentos de comparação entre desempenhos eramabolidos. Cada um autoavaliava o desenvolvimento de sua aprendizagemsegundo os princípios expostos no verbete círculo de cultura.Referências: FREIRE, Paulo. Conscientização e alfabetização: uma nova visão do processo. In:FÁVERO, Osmar (Org.). Cultura popular e educação popular: memória dos anos 60. Rio de Janeiro:Edições Graal, 1983. p. 99-127.
METODOLOGIA DO TRABALHO POPULARConceição PaludoNum interessante livro intitulado Educar para transformar e transformarpara educar (HURTADO, 2003), encontra-se uma definição de “metodologia”que pode ser aproximada da perspectiva de Freire. Segundo o autor,“metodologia” é a coerência com que se devem articular os objetivos aalcançar, os métodos, os procedimentos e as técnicas ou instrumentosutilizados em relação ao marco teórico que dá origem aos objetivos buscados.É assim que, em Freire, a metodologia do trabalho popular está contida noquadro referencial teórico, a partir do qual a proposição metodológica ganhacoerência e há a possibilidade de estruturação do método.9Em Freire, não é possível recriar o método dissociado da teoria que lheconfere significado. Talvez por isso Freire não tenha realizado discussõesconceituais isoladas a respeito da palavra “metodologia” e da palavra“método”. Também, esse pode ter sido o motivo que o levou a dizer, ementrevista concedida à Nilcéia Lemos Pelandré, em 14/04/1993, que[...] preferia dizer que não tenho método. O que eu tinha, quando muitojovem, há 30 anos ou 40 anos, não importa o tempo, era a curiosidade deum lado e o compromisso político do outro, em face dos renegados, dosnegados, dos proibidos de ler a palavra, relendo o mundo. O que eutentei fazer e continuo hoje, foi ter uma compreensão que eu chamaria decrítica ou de dialética da prática educativa, dentro da qual,necessariamente, há uma certa metodologia, um certo método, que euprefiro dizer que é método de conhecer e não um método de ensinar. (inFeitosa, 1999)Assim, a proposição do caminho a percorrer e o jeito de caminhar naconcretização do trabalho popular requer a compreensão de que a educação,ou a “ação cultural para a liberdade”, envolve o campo cognitivo e estético,mas parte e retorna ao âmbito político e social, daí o conceito de práxis, comomovimento articulador do processo prática – teoria – pratica – teoria – prática... que se estende indefinidamente e indica a “reflexão e ação incidindo sobre
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tradicional, mas em um círculo em que o monitor ocupava um dos lugares
equidistantes de um mesmo centro, e em que todos estavam uns ao lado dos
outros e, nunca, uns atrás de outros e diante de um “professor”, todos eram
motivados a participarem de um livre debate, incentivados pela apresentação
de uma sequência de fichas de cultura. Fichas projetadas ou rusticamente
desenhadas, em que diferentes imagens simples introduziam a ideia de serem
as pessoas, logo, serem eles próprios, agentes criadores do mundo de cultura
em que viviam. O trabalho do monitor ou do coordenador do grupo era
incentivar um máximo de participações. Propiciar o falarem e o exporem,
com as suas palavras, as suas ideias, os seus “pensamentos”, a partir de como
interpretavam os desenhos de cada uma das “fichas de cultura” e, sobretudo,
a partir de suas próprias memórias de experiências de vida.
A alfabetização propriamente dita começava logo após. Ela prosseguia
um processo ativo e partilhado em que, através do desdobramento de cada
uma das escolhidas palavras geradoras em seus fonemas, todos eram
incentivados a procurarem trabalhar o processo de decodificação, formando
palavras existentes, “reais” ou não, e procurando integrar palavras em feixes
de sentido, em pequenas frases que iam se tornando mais elaboradas e
complexas ao longo do aprendizado.
Todos os procedimentos de comparação entre desempenhos eram
abolidos. Cada um autoavaliava o desenvolvimento de sua aprendizagem
segundo os princípios expostos no verbete círculo de cultura.
Referências: FREIRE, Paulo. Conscientização e alfabetização: uma nova visão do processo. In:
FÁVERO, Osmar (Org.). Cultura popular e educação popular: memória dos anos 60. Rio de Janeiro:
Edições Graal, 1983. p. 99-127.