30.05.2021 Views

Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

impossíveis diante do amplo cinismo e do inexorável desespero. Em uma

época em que a morte determinava tão fortemente a suposição de que o

futuro fosse meramente uma repetição do presente, Freire lutou

corajosamente pela ideia de que não havia possibilidade para a humanidade

sem uma esperança e uma crença imorredouras na possibilidade de luta e

mudança. Freire se recusou a retirar a emancipação da pauta e, ao mesmo

tempo, acreditava que não havia atalhos para tal desafio.

Subjacente à política da esperança de Freire, está uma concepção de

pedagogia que se situa nas linhas divisórias onde as relações entre dominação

e opressão, poder e impotência continuam a ser produzidas e reproduzidas.

Compreendendo que a primeira tarefa da política dominante é tornar o poder

invisível, Freire defendia que os intelectuais assumissem a responsabilidade

de tornar visíveis os mecanismos de poder em todos os níveis da interação

social e que o fizessem mediante um projeto autoconsciente de fazer com que

estudantes e outras pessoas se conscientizem dos mecanismos que tornam a

vida algo doloroso e o sofrimento humano desnecessário algo aceitável. E, no

entanto, para Paulo, os intelectuais não deveriam exercer o papel de

legisladores ou linhas-duras impotentes tentando impor a orientação de algum

partido. Pelo contrário, os intelectuais tinham que tomar uma posição sem se

tornarem doutrinários, dedicar suas vidas a estudar os problemas sociais,

assumir alguma responsabilidade pelo estabelecimento de conexões públicas

e atacar as causas do sofrimento humano. Neste sentido, Paulo não era

desapaixonado, desinteressado ou simplesmente um intelectual mecânico que

se escondia sob o manto da objetividade ou se rendia à linguagem neutra do

treinamento. Ele era alguém que moldava a esperança como uma militância

reflexiva e crítica; a esperança, neste caso, representava tanto um referencial

para imaginar um futuro diferente quanto um encontro e uma vontade

pedagógica de agir de maneira diferente. Para Paulo, a história era o

fundamento sobre o qual se desenvolvia a atuação humana, mas não era algo

a ser reverenciado. Pelo contrário, era uma crença na redenção das esperanças

do passado, e não uma reverência impensada dele, que animava a crença de

Freire na história e na qualidade inconclusa do que significava ser humano.

Para Freire, a luta para resgatar uma pedagogia da esperança e luta deve ser

conectada ao melhor que a democracia pode oferecer, o que significa

reconhecer que uma sociedade jamais alcança os limites da justiça e deveria

assumir a responsabilidade coletiva de disponibilizar os recursos materiais e

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!