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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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MEMÓRIA/ESPERANÇA

Henry A. Giroux

Paulo tinha pouca paciência com a educação, seja como uma forma de

treinamento, um método, seja como uma prática política e moral que fechava

a história, o potencial de atuação individual e social, a alegria e a importância

da solidariedade engajada, a importância de responsabilidade social e a

possibilidade de esperança. Paulo era um intelectual crítico e presciente

porque corria riscos, tomava posições sem ficar quieto e defendia

vigorosamente que a educação não era meramente o fundamento do

aprendizado, mas um pré-requisito para ler criticamente o mundo e

transformá-lo com o objetivo de torná-lo melhor. Paulo era incrivelmente

perceptivo para criar teias dialéticas que conectavam práticas aparentemente

sem relação. Quando ele falava sobre a relação entre autoridade e liberdade,

não só abordava a questão dos limites e possibilidades de liberdade em uma

sociedade democrática, mas também enfocava como essa dialética se

efetivava na teoria e prática da sala de aula. Quando dizia que toda atividade

humana começa com a história, ele não só fundamentava sua compreensão do

ser humano inconcluso em uma lógica de autodeterminação e esperança, mas

também falava sobre a importância da curiosidade intelectual na sala de aula

e de como ela e uma cultura do questionamento eram centrais para uma

pedagogia do não concluído. Quando escrevia sobre justiça social e nossa

responsabilidade para com os outros como parte de um discurso mais amplo

da democracia global, ele também deixava claro como a justiça e

responsabilidade eram centrais para valorizar as experiências, vozes e crenças

que os/as estudantes trazem para a sala de aula e como era importante não

somente afirmar essas vozes, mas também nossa responsabilidade, como

professores, de capacitá-los a se tornar mais do que eram, expandir o

conhecimento que traziam para a sala de aula e ampliar seu senso de

comunidade e solidariedade para além de sua família, aldeia, bairro e

inclusive nação. Paulo era um intelectual inserido no mundo, que nunca se

permitia esquecer a conexão entre o abstrato e o cotidiano, o global e o local,

a própria pessoa e o outro. Sua interrogação contínua sobre a relação em

constante mudança entre o determinismo e a esperança, a privatização e a

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