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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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exigem. O educador se vê diante de dois problemas centrais que se mostram

quase insuperáveis: o próprio sistema escolar, que trabalha contra o educador,

colocando diante dele dezenas de alunos; e o método tradicional de educação

e ensino, percebido por ele como inoperante. Isso lhe traz pavor e receio, e

ele se pergunta como superá-los. Dá-se conta de que tem de começar uma

perspectiva nova. Mas como e o que fazer?

O segundo espaço onde Freire discute a questão do medo é no livro

Professora sim, tia não, uma série de cartas dirigidas a professoras. Ele

dedica toda a segunda carta ao tema: “Não deixe que o medo do difícil

paralise você” (FREIRE, 1979). Freire argumenta ali que o medo é normal; o

problema é quando ele se transforma em pânico, e então paralisa as pessoas.

Finalmente, há uma expressão, “o medo à liberdade”, que vamos

encontrar em vários de seus livros da década de 1990. Ele discute a questão

do medo e da ousadia, principalmente ao refletir sobre sua própria história:

“seu medo à liberdade que eu nem entendia nem dele falava assim” (1997a,

p. 10 e 11).

A ANTINOMIA MEDO-OUSADIA

Escolhemos o termo “antinomia”, pois é nosso intuito mostrar, a partir do

entendimento de Freire, que medo e ousadia não se excluem, mas se

necessitam; eles são interdependentes. O medo é uma dimensão necessária do

trabalho do educador. Não o medo paralisante, mas o medo que produz o

sonho libertador, como veremos.

Na reflexão de Freire, o medo se faz presente na vida do educador

precisamente porque ele quer uma educação libertadora e transformadora. Só

se tem medo porque se quer mudar. E querer mudar é um ato político. Quem

quer manter as coisas como estão não precisa ter medo:

Sim! O medo existe em você, precisamente porque você tem o sonho. Se

seu sonho fosse o de preservar o status quo, então o que você teria a

temer? [...] Então, você não precisa negar seu medo. Se você racionaliza

o medo, então nega o sonho. Para mim, é necessário ser absolutamente

claro a respeito desses dois pontos: o medo vem de seu sonho político, e

negar o medo é negar o sonho. (1986, p. 52-53)

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