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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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“antidialógicas” e inibidoras de um debate revolucionário mais fecundo

(FREIRE, 1987, p. 25; 1993, p. 89 e 90; 2006, p. 130, 142 e 143). Mesmo

assim, embora negasse a “luta de classes” como “o motor da história” e a

considere como “um deles” (FREIRE, 1993, p. 91), é diante de cristãos e

marxistas que ele dedica primeiramente a Pedagogia do oprimido, dado que,

“ainda que discordando de nossas posições em grande parte, em parte ou em

sua totalidade, estes, estamos certos, poderão chegar ao fim do texto”

(FREIRE, 1987, p. 25)

Tendo declarado que “antes mesmo de ler Marx já fazia minha suas

palavra” (FREIRE, 1998, p. 145), Freire se esforçou em esclarecer os graves

equívocos da “falsa dicotomia entre subjetividade e objetividade” que, “num

simplismo ingênuo”, havia se cristalizado em parte significativa das

lideranças de esquerda do seu tempo. Dessa forma, além da presença

marcante de grandes líderes revolucionários e intelectuais marxistas nos seus

escritos da maturidade, Freire considerava que o seu método identificava-se,

mais do que os dos seus “reais ou supostos críticos marxistas” (FREIRE, 1993,

p. 89), com os propósitos de Marx quanto ao papel da consciência no

processo de libertação histórica e social:

O que Marx criticou e, cientificamente destruiu, não foi a subjetividade,

mas o subjetivismo, o “psicologismo”. A realidade social, objetiva, que

não existe por acaso, mas como produto da ação dos homens, também

não se transforma por acaso. Se os Homens são os produtores desta

realidade e se esta, na “inversão da práxis”, se volta sobre eles e os

condiciona, transformar a realidade opressora é tarefa histórica, é tarefa

dos homens. (Freire, 1987, p. 37)

Partindo da premissa de que a estrutura social não resultava da “soma

(nem na justaposição) da infra-estrutura com a supra-estrutura”, mas da

“dialetização entre as duas”, Freire reiterava o “indiscutível papel” que uma

“revolução cultural” poderia jogar no “processo de libertação das classes

oprimidas” (FREIRE, 2006, p. 82). Assim, ao estabelecer um olhar

“existencialista/fenomenológico” sobre a estrutura das sociedades de classe

apontadas por Marx, Freire talvez tenha proporcionado novos caminhos para

o desenvolvimento de metodologias capazes de superar, no sentido dado por

Konder (1988, p. 9-46), a grande lacuna da tradição marxista consigo própria,

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