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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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MARX/MARXISMO

Marcos Macedo Caron

Freire identificou-se claramente no campo da esquerda progressista na

maior parte da sua vida militante e intelectual, apoiando, até, movimentos e

regimes revolucionários socialistas que chegaram ao poder pelas armas na

África e na América Latina nos anos 1960 e 1970. Ainda assim, excetuandose

o campo da direita conservadora, nenhum outro autor lhe atribuiu, nem

mesmo o próprio Freire a si mesmo, a definição de “filósofo e educador

marxista”. A imersão de Freire no ideário marxiano, além de continuar um

debate inconcluso, precisa ser analisada a partir da investigação da própria

natureza do seu método em relação aos postulados centrais do materialismo

histórico dialético.

A despeito da defesa explícita do autor pelos oprimidos e o conteúdo

radical/igualitário do seu projeto socioeducativo, muitas correntes marxistas

apontaram-lhe um reformismo de “viés subjetivista” que, além de eclético,

retornava em parte ao idealismo dos “hegelianos de esquerda” da primeira

metade do século XIX, já superado por Marx na “Ideologia Alemã” ao

criticar, em 1845, os “sonhos inocentes e pueris” dos que julgavam possível

“desmoronar a realidade” mediante a “troca das ilusões” por “pensamentos

correspondentes à essência do homem” (MARX, 2007, p. 3). Outros autores

identificam-no com os ideais liberais do “existencialismo amoroso” e do “serem-situação”,

de Jaspers, com o “cristianismo personalista” de Mounier e,

principalmente, com os conceitos de “awareness” e da “consciência total”

(em oposição ou “superação” à “consciência de classe”) de Karl Mannheim,

todos condensados no campo teórico do “Nacionalismo-Desenvolvimentista”

brasileiro das décadas de 1950 e 1960 (PAIVA, 2000, p. 45, 123, 158 e 175;

TORRES, 2006, p. 2-6).

Freire reconheceu “os momentos ingênuos” dos seus primeiros escritos,

nos quais o “caráter político da educação” e “o problema das classes sociais e

de sua luta” ainda não eram explicitados (FREIRE, 2006, p. 154). Porém, como

autor comprometido radicalmente com a transformação social, ele discordava

das análises que procuravam situá-lo num campo antimarxista de cunho

liberal ou “humanista cristão” estéril, classificando-as como “sectárias”,

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