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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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M

MANGUEIRA

Danilo R. Streck

As árvores sempre me atraíram. As frondes arredondadas, a variedade do

seu verde, a sombra aconchegante, o cheiro das flores, a ondulação dos

galhos, mais intensa ou menos intensa em função de sua resistência ao

vento. As boas vindas que suas sombras sempre dão a quem a elas chega,

inclusive a passarinhos multicores e cantadores. A bichos, pacatos ou

não, que nelas repousam. (Freire, 1995, p. 15)

Essas são as palavras com que Freire abre o seu livro À sombra desta

mangueira, explicando a seguir que o título é uma licença que se permite

devido à importância das árvores em sua infância. Em seus escritos

autobiográficos, essa presença marcante das árvores em sua vida é

constantemente reafirmada.

Entre as árvores, a mangueira merece uma atenção e um carinho especial.

A mangueira é uma árvore frutífera comum na Região Norte e Nordeste do

Brasil que foi trazida pelos jesuítas no início da colonização (Cf. nota 2, de

Ana Maria Araújo Freire, in: À sombra desta mangueira). Uma de suas

características é a generosidade de sua copa em cuja sombra Paulo Freire

rabiscou as primeiras letras, no chão, e que depois passou a ser o lugar do

aconchego para onde se retirava para, na solidão, encontrar-se consigo e com

os outros.

A mangueira – que poderia ser a jaqueira, o cajueiro ou outra árvore –

revela também o papel da sensualidade na teoria pedagógica freiriana. As

frutas têm cheiro e gosto, o sopro do vento nas folhas produz sons, as flores

atraem insetos, os troncos e os galhos convidam as crianças a neles subir e se

agarrar. Esta sensualidade está presente na ação educativa. Conhece-se de

corpo inteiro, dirá Freire repetidamente, com o intelecto, com as mãos e com

o coração.

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