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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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apesar de toda a sua retórica, não têm força para anular a existência das

classes sociais e seus interesses; não conseguem, por sua vez, “acabar com os

conflitos e a luta entre elas”. Para o autor, “luta é uma categoria histórica e

social”, ou seja, está contemplada numa totalidade histórica, manifestando-se

sob diferentes expressões no espaço e no tempo. Por isso é que a luta não

impede que se estabeleçam acordos entre as forças antagônicas; “os acertos e

os acordos fazem parte da luta, como categoria histórica e não metafísica”

(FREIRE, 1992, p. 43). Esses momentos de acordo ou de equilíbrio de forças,

em determinadas circunstâncias, não significam que tenham sido eliminadas

as classes sociais e os seus interesses em conflito que, mais adiante, poderão

mobilizar novas lutas.

A palavra “luta” aparece, também, no mesmo livro, quando Freire (1992)

responde aos críticos assumidos como de “esquerda” que o acusam de não

fazer referência à expressão, referida ao materialismo histórico, de que “a luta

de classes é o motor da história” (p. 89), e de, em lugar das classes sociais,

substituir essa categoria pela de “oprimido”. Do mesmo modo, Freire acusa a

“direita” de cobrar que ele retire de suas obras as referências feitas à

existência das classes sociais e aos seus interesses em conflito. Justificam os

portadores do discurso neoliberal e críticos de Freire que as classes sociais

não mais existem depois da derrubada do Muro de Berlin.

Paulo Freire manifesta uma visão mais ampla da transformação social,

por isso afirma não ter se preocupado em registrar que a luta de classes seja

ou tenha sido o motor da história no mundo moderno. Para esse educador “A

luta de classes não é o motor da história, mas certamente é um deles”, uma

vez que “o sonho pode ser, também, um motor da história” (p. 91). Todavia,

Freire após a queda do Muro de Berlin, não acredita que desapareceram as

classes sociais e os conflitos existentes entre elas, os quais movem as lutas

sociais. Como o faz em outras páginas da mesma obra, ele reafirma que a

doutrina neoliberal não reúne forças para anular a presença das classes sociais

e os interesses antagônicos que as separam. Portanto, as lutas de classes – por

ser a luta uma categoria histórica, e não metafísica – podem até admitir

acordos e tréguas, porque estes são parte integrante das lutas (p. 93). Isso não

significa, entretanto, que tenham sido eliminadas as classes sociais e

superados os interesses conflitantes que as separam.

Na carta “Do direito e do dever de mudar o mundo”, Freire (2000a) trata

dos “sonhos como projetos pelos quais se luta”, o que implica marchas,

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