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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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pedagogia libertadora quando rompe com a dupla face do ser e do parecer. É

na ênfase dada por Freire a essa descoberta e superação – obra de uma

pedagogia libertadora – que se compreende o sentido da luta dos oprimidos

para que, ao descobrir-se e ao libertar-se, não venham a ocupar o lugar do

opressor. Assim, a luta é para que o homem novo, ao ser superada a

contradição através da transformação social, não venha a tornar-se um

engodo como opressor de novos oprimidos. Paulo Freire exemplifica o rumo

que essa luta pela humanização não pode, de modo algum, seguir, o que

significaria um retrocesso, mencionando, na obra, a luta pela terra, que pode

vir a distanciar-se da busca do Ser Mais: “Dessa forma, por exemplo, querem

a reforma agrária, não para libertar-se, mas para passar a ter terra e, com esta,

se tornar proprietários, ou, mais precisamente, patrões de novos empregados”

(FREIRE, 1981, p. 34).

Em Pedagogia da esperança, publicada em 1992, Freire retoma reflexões

feitas em Pedagogia do oprimido, para reafirmá-las e ampliá-las, incluindo

na relação entre oprimido-opressor, focalizada naquela obra, as questões de

gênero e raça, além de manter a de classe social. A palavra “luta” aparece

inúmeras vezes nesse livro; situa-se em um contexto de imposição de práticas

e concepções neoliberais, no Brasil, a que Freire se contrapõe com a violência

própria dos que tomam partido das camadas populares, uma vez que não

admite a neutralidade. A postura aparentemente neutra para esse educador

pernambucano oculta o apoio às políticas neoliberais ou então evidencia a

postura cômoda dos que, não sendo por elas atingidos, não se incomodam em

denunciá-las. Para Freire, tomar consciência da situação de exploração em

que vivem os oprimidos, por si só, não os liberta, embora seja um passo

importante para superá-la, “desde que se engajem na luta política pela

transformação das condições concretas em que se dá a opressão” (FREIRE,

1992, p. 32).

Outra questão na qual Freire situa a luta, ainda na mesma obra, refere-se à

organização das forças progressistas que lutam por democracia em confronto

com a violência do poder exercido pelo que identifica como “direita”. Aponta

para a importância de buscar uma unidade capaz de conter a diversidade,

superando a intolerância que nega as diferenças, porque a virtude

revolucionária “consiste na convivência com os diferentes para que se possa

melhor lutar contra os antagônicos” (p. 39).

Freire reforça os questionamentos que faz aos discursos neoliberais, que,

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