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LUTA

Marlene Ribeiro

A palavra “luta” aparece em várias obras de Paulo Freire. Iniciamos o seu

resgate para tentar fazer dela uma leitura pelo livro talvez mais conhecido,

Pedagogia do oprimido, escrito em 1970, cuja 9ª edição consultada traz um

prefácio do professor Ernani Maria Fiori. Na epígrafe, antes de “Primeiras

Palavras”, Paulo Freire (1981) dedica o livro “aos esfarrapados do mundo” e

“aos que com eles lutam” (p. 17). “Luta” aparece, nessa obra, no contexto em

que se processa o movimento contínuo de desumanização, articulado à busca

da humanização ou da vocação do SER MAIS (em caixa-alta, como no

original). E a luta dos oprimidos, uma tarefa humanista e histórica, só faz

sentido quando os que buscam resgatar sua humanidade anulada não tomam o

lugar nem se assumem como opressores. A generosidade dos oprimidos, que

se alimenta de sofrimento, morte e miséria causados por uma “ordem social”

que é injusta, está em lutar para arrancar as raízes do falso amor, da falsa

caridade, que mantém o medo, a insegurança e a dependência (p. 30-31),

sem, com isso, ocupar o papel dos que oprimem.

A luta, assim, nutre-se da enorme generosidade de homens e povos para

que, por sua vez, estes e outros homens não mais estendam suas mãos ou

dirijam seus olhares, com gestos e posturas de pedintes de esmolas, àqueles

que os condenam a ficar nessa posição. E, nesta luta, mãos humanas eivadas

de generosidade trabalham e transformam o mundo. Freire toma emprestado

de Frantz Fannon, em Os condenados da terra (2005), a expressão

“condenados da terra”, referindo-se aos oprimidos ou aos “esfarrapados do

mundo”, para afirmar que é destes que parte a iniciativa da luta, embora

possam contar com o apoio daqueles que lhes ofereçam a sua solidariedade.

“Lutando pela restauração de sua humanidade, estarão, sejam homens ou

povos, tentando a restauração da generosidade verdadeira” (FREIRE, 1981, p.

32).

A palavra “luta” também aparece relacionada ao problema que se coloca

à pedagogia da libertação. Na abordagem dialética que faz Freire, o oprimido,

atravessado pela contradição, hospeda dentro de si o opressor. Por isso é

importante essa descoberta, que assume a dimensão de um parto da

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