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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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prática, ação e reflexão, subjetividade e objetividade, vai sendo compreendida

em termos corretos, na análise daquela relação antes referida”.

Parafraseando o título do Prefácio da Pedagogia do oprimido, “Aprender

a dizer a sua palavra” (FIORI, 1970, p. 9-21), Freire afirma que nessa

perspectiva da dialética, “aprender a ler e escrever oportuniza a percepção

implicada no poder de ‘dizer a sua palavra’”: comportamento humano no

mundo que envolve ação-reflexão. Direito de expressar-se expressando o

mundo, de decidir, de optar e de criar e recriar o mundo no duplo sentido do

binômio dialético.

Fora dessa práxis, desta forma especial de dialética ação-reflexão, o

conhecimento resulta idealista e o fazer torna-se meramente mecânico e

irrefletido, porque “o ato de conhecer envolve um movimento dialético que

vai da ação à reflexão sobre ela” e desta para uma nova ação. É a mesma

dialética que se desenrola entre o fazer e o saber, entre a linguagem e a ação,

a palavra e o trabalho, porque não pode haver pronúncia do mundo sem a

consciente ação transformadora sobre este (p. 50).

Para Freire há sempre dois contextos inseparáveis em questão: de um

lado, o contexto teórico, dos sujeitos do conhecimento, e do outro, o contexto

prático concreto da realidade social (p. 51). Nesse contexto teórico, a

alfabetização/conscientização é um ato de conhecimento que pressupões uma

epistemologia dialética e um método que lhe corresponda, isto é, um diálogo

entre os sujeitos, que, juntos, vão elaborando o conhecimento e o mundo:

fazer-saber, palavra-ação, ação-reflexão.

Isso significa, porém, que a práxis educativa que se move nesse binômio

é continuamente a prática de uma concepção antropológica e epistemológica:

é a prática consciente de seres humanos, que implica reflexão,

intencionalidade, temporalidade e transcendência, diferentemente dos meros

contatos dos animais com o meio que os envolve. Os seres humanos podem

refletir sobre suas limitações e podem projetar a ação para transformar a

realidade que os condiciona. Por conta da dialética ação-reflexão afirmam-se

como sujeitos, seres de relação, no mundo, com o mundo, e com os outros,

pela mediação do mundo-linguagem. Os seres humanos atuam sobre a

realidade objetiva e sabem que atuam: podem objetivar tanto a realidade

quanto a ação e podem comunicar isso tudo na forma de linguagem. Assim,

“aprender a ler é aprender a dizer a sua palavra. E a palavra humana imita a

palavra divina: é criadora”, palavra-ação, significação produzida na práxis,

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