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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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fosso da discriminação e da exclusão daqueles que estão na escola para

aprender. O que interessa, efetivamente, é aproximar palavras e ideias das

realidades experienciadas pelos alunos, problematizando as diferenças de

significado, pontuando a riqueza de sentidos e, principalmente, abrindo

espaço para o diálogo.

Essa forma de olhar para a linguagem obriga a escola a repensar a

educação que é proposta e desenvolvida nas salas de aula, pois o que se vê

atualmente, na maioria das vezes, são professores preocupados em não

intervir nos modos dialetais ou incorretos da criança falar, ou exigindo

demasiado delas, num tempo e ritmo que ainda não é o seu, castrando sua

criatividade e expressividade discursiva. Ao mesmo tempo, eles exigem

silêncio e valorizam não serem interrompidos enquanto falam. Assim, os

alunos, em sua maioria, não encontram condições para aprender e exercitar

na escola o diálogo crítico e fecundo, as argumentações e a busca de novas

perspectivas sobre um determinado assunto, com o desenvolvimento de um

pensamento crítico e problematizador.

Além disso, a escola e os professores têm uma compreensão equivocada

das possibilidades de reflexão e abstração da linguagem dos participantes das

classes oprimidas. Muitos acreditam que “o discurso popular não tem

capacidade de abstração” (FREIRE, 1987, p. 179), esquecendo que as pessoas

comuns, quando refletem sobre suas experiências buscando compreendê-las,

manifestam a complexidade do que vão apreendendo, através de metáforas,

parábolas e estórias, o que as mantém ligadas ao concreto. Tanto intelectuais

como não intelectuais poderão sentir-se desafiados pelas mesmas

inquietações e problemas, mas a linguagem com a qual manifestam suas

respostas é que será diferente. Portanto, não se trata de proibir, inibir ou

cercear a fala mais elaborada do professor em sala de aula ou a linguagem

mais simples, trivial ou dialetal dos alunos, mas trata-se de “compreender

como as pessoas comuns, através de suas formas de expressão peculiares e

profundamente éticas, são capazes de tornar explícitos os problemas do

mundo” (p. 180).

Freire afirma que o Português enfatiza uma linguagem machista,

ideologicamente produzida para ser excludente com as mulheres,

posicionando-se contra aqueles que atribuem isso a sua estrutura gramatical.

Ele próprio sofreu com essa estruturação, pois se inicialmente em suas obras,

por opção filosófica o sujeito gramatical era o ser humano ou, por extensão, o

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