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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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LINGUAGEM

Cecília Irene Osowski

Linguagem para Paulo Freire é a expressão do conhecimento produzido

pelo homem em sua relação sujeito (aquele que conhece) versus objeto

(aquilo que é conhecido), servindo como forma de comunicação carregada

por relações de poder, pois as diferenças de linguagem ou idioma têm um

fundamento político e ideológico, mesmo que nem sempre percebamos esse

poder. Daí a importância do desenvolvimento de uma consciência transitivocrítica,

pois a linguagem é manifestação do pensamento que tanto pode

apresentar-se de forma ingênua quanto de forma crítica. Como a escola

continua ainda “acalentada [...] pela sonoridade da palavra, pela memorização

dos trechos, pela desvinculação da realidade, pela tendência a reduzir os

meios de aprendizagem às formas meramente nocionais” (FREIRE, 1980, p.

94-95), a ênfase é dada numa linguagem que se expressa através da palavra

oca, de frases torneadas, de verbosidade em aulas que Paulo Freire chama de

discursivas. Como resultado, os alunos, adultos ou não, ficam aprisionados

numa consciência ingênua que não lhes permite identificar, descrever,

analisar e discutir em profundidade as condições alienantes de como a classe

oprimida vive.

Paulo Freire vê a “linguagem como algo comprometido, também, com as

classes sociais” (FREIRE, 1987, p. 176), o que permite entender e aceitar as

diferenças de sintaxe entre a linguagem dos trabalhadores, por exemplo,

direta e simples como suas vidas e a dos professores em situação de ensino,

manifestando-se através de volteios, circunlóquios, fazendo, como Freire

afirma “a dança dos conceitos, o balé conceitual que aprendemos na

universidade” (p.176). E nesse sentido, as palavras também carregam pesos

diferentes, pois “favela” pronunciada por alguém que mora nela tem mais

densidade, mais peso e mais força significativa do que essa mesma palavra

pronunciada por quem apenas aprendeu-a de outras formas, mas distante da

favela enquanto sua moradia.

Ao mesmo tempo, o problema não se resolve impedindo o professor de

utilizar palavras conceitualmente elaboradas ou com densidade

epistemológica diferente daquelas que seus alunos usam. Isso aumentaria o

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