Dicionario-Paulo-Freire-versao-1
LICENCIOSIDADEJung Mo SungO conceito de liberdade de Paulo Freire pode ser mal compreendido econfundido com a licenciosidade se não tomarmos uma distância crítica emrelação à noção de liberdade construída pela modernidade. Para a culturadominante na modernidade capitalista, o ser humano nasce livre e só nãoconsegue viver plenamente a sua liberdade sem limites por causa dasestruturas políticas, culturais, religiosas e familiares que o reprimem. Porisso, a luta contra essas estruturas repressivas seria o caminho para aliberdade plena, sem limites. Para neoliberais, esse caminho é a luta por ummercado totalmente livre de qualquer tipo de controle ou intervenção porparte do Estado e da sociedade. É uma noção de ser humano que não querreconhecer e aceitar os limites da sua condição humana, nem os direitos e aliberdade de outras pessoas e grupos sociais que possam limitar a realizaçãodas suas vontades ou desejos.Para Freire, no entanto, a pretensão da liberdade sem limites ou acima dequalquer limite – que ele identifica como licenciosidade – é tão negadora daliberdade quanto a liberdade asfixiada ou castrada. Isso porque, a liberdade,para ele, é uma conquista do ser humano na realização da sua vocação dehumanização; e a humanização não se dá contra a condição humana, mas “naação de sujeitos que assumem seus limites” (FREIRE, 2000, p. 34). A nãoaceitação dos seus limites e dos limites que decorrem de uma convivênciahumana e democrática na sociedade leva à tentação de impor a sua vontadeilimitada de forma despótica, egoísta e arbitrária sobre as vontades e osdireitos de outras pessoas e grupos sociais.Quando, por exemplo, pais ou educadores não colocam limites ante asvontades das crianças/educandas em nome de uma educação baseada naliberdade, confundindo a liberdade com a licenciosidade, ocorre o que Freirechama de “tirania da liberdade”. Essa confusão pode levar a dois tipos detirania: a da liberdade, que assume a licenciosidade como liberdade, e a“tirania da autoridade”, que em nome da negação da licenciosidade nega aprópria liberdade. A crítica de Freire à licenciosidade não se reduz aoproblema das relações familiares ou interpessoais, mas tem implicações no
campo político: “Como aprender democracia na licenciosidade em que, semnenhum limite, a liberdade faz o que quer ou no autoritarismo em que, semnenhum espaço, a liberdade jamais se exerce?” (FREIRE, 2000, p. 34). Semuma educação que supere a confusão entre a liberdade e a licenciosidade tãopresente nos dias de hoje, “corremos o risco de cair seduzidos ou pela tiraniada liberdade ou pela tirania da autoridade, trabalhando, em qualquer dashipóteses, contra a nossa incipiente democracia” (FREIRE, 1999, p. 23).O desafio para educadores e educadoras de opção democrática parasuperar a licenciosidade pregada como a liberdade é, então, “trabalhar nosentido de fazer possível que a necessidade do limite seja assumidaeticamente pela liberdade” (FREIRE, 2004, p. 105).Referências: COMBLIN, José. Vocação para a liberdade. São Paulo: Paulus, 1998; FREIRE,Paulo. Pedagogia da autonomia. 29. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2004; FREIRE, Paulo. Pedagogia daesperança: um reencontro com a Pedagogia do oprimido. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1999;FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicas e outros escritos. São Paulo: Ed. Unesp,2000.
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LICENCIOSIDADE
Jung Mo Sung
O conceito de liberdade de Paulo Freire pode ser mal compreendido e
confundido com a licenciosidade se não tomarmos uma distância crítica em
relação à noção de liberdade construída pela modernidade. Para a cultura
dominante na modernidade capitalista, o ser humano nasce livre e só não
consegue viver plenamente a sua liberdade sem limites por causa das
estruturas políticas, culturais, religiosas e familiares que o reprimem. Por
isso, a luta contra essas estruturas repressivas seria o caminho para a
liberdade plena, sem limites. Para neoliberais, esse caminho é a luta por um
mercado totalmente livre de qualquer tipo de controle ou intervenção por
parte do Estado e da sociedade. É uma noção de ser humano que não quer
reconhecer e aceitar os limites da sua condição humana, nem os direitos e a
liberdade de outras pessoas e grupos sociais que possam limitar a realização
das suas vontades ou desejos.
Para Freire, no entanto, a pretensão da liberdade sem limites ou acima de
qualquer limite – que ele identifica como licenciosidade – é tão negadora da
liberdade quanto a liberdade asfixiada ou castrada. Isso porque, a liberdade,
para ele, é uma conquista do ser humano na realização da sua vocação de
humanização; e a humanização não se dá contra a condição humana, mas “na
ação de sujeitos que assumem seus limites” (FREIRE, 2000, p. 34). A não
aceitação dos seus limites e dos limites que decorrem de uma convivência
humana e democrática na sociedade leva à tentação de impor a sua vontade
ilimitada de forma despótica, egoísta e arbitrária sobre as vontades e os
direitos de outras pessoas e grupos sociais.
Quando, por exemplo, pais ou educadores não colocam limites ante as
vontades das crianças/educandas em nome de uma educação baseada na
liberdade, confundindo a liberdade com a licenciosidade, ocorre o que Freire
chama de “tirania da liberdade”. Essa confusão pode levar a dois tipos de
tirania: a da liberdade, que assume a licenciosidade como liberdade, e a
“tirania da autoridade”, que em nome da negação da licenciosidade nega a
própria liberdade. A crítica de Freire à licenciosidade não se reduz ao
problema das relações familiares ou interpessoais, mas tem implicações no