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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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LIBERDADE

Jung Mo Sung

Liberdade é um conceito central na antropologia de Paulo Freire, em

torno do qual ele constrói a sua teoria pedagógica. Para ele, o que diferencia o

ser humano de outros animais é o fato de que os humanos são seres de

integração ao seu contexto, um ser situado cultural e historicamente, com

capacidade criativa e crítica; enquanto os animais são essencialmente seres da

acomodação e do ajustamento. Essa característica específica que faz o ser

humano se realizar como humano não é algo pronto. Os seres humanos têm

lutado, através dos tempos, contra as forças de dominação e opressão, pois

“toda vez que se suprime a liberdade, fica ele um ser meramente ajustado ou

adaptado” (FREIRE, 1980, p. 42). Por isso, Freire entende a humanização não

como um dado ou um processo garantido, mas como uma vocação, que pode

ser negada na injustiça, opressão, exploração e na violência, mas que é

afirmada “no anseio de liberdade, de justiça, de luta pela recuperação de sua

humanidade roubada” (FREIRE, 1979, p. 30).

Ao afirmar que sistemas e relações sociais injustas negam a humanização

e a liberdade e propor a luta pela libertação dessas condições como uma

tarefa humanista, Freire apresenta uma dimensão da liberdade que Amartya

Sen chamou de “liberdades substanciais”: as condições econômicas, sociais e

políticas que possibilitam escolhas e oportunidades das pessoas de exercerem

ponderadamente sua condição de agente (SEM, 2000).

Essa luta pela libertação de situações sociais e políticas opressivas é uma

condição fundamental para a realização da liberdade, mas não suficiente.

Freire analisa também a dimensão subjetiva da liberdade. Para ele, a

liberdade não é a possibilidade de realizar todos os desejos, no sentido de

almejar a liberdade acima de qualquer limite, como pensam muitos do mundo

moderno e pós-moderno. A esse respeito, ele apresenta dois argumentos

principais. Primeiro, “a vontade ilimitada é a vontade despótica, negadora de

outras vontades e, rigorosamente, de si mesma. É a vontade ilícita dos ‘donos

do mundo’ que, egoístas, só se vêem a si mesmos” (FREIRE, 2000, p. 34). Por

isso, “a liberdade sem limite é tão negada quanto a liberdade asfixiada ou

castrada” e ela “amadurece no confronto com outras liberdades, na defesa de

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