Dicionario-Paulo-Freire-versao-1
33), de uma[...] espécie de psicanálise histórico-político-social de que vá resultando aextrojeção da culpa indevida, (assenhorando-nos de nós próprios). A istocorresponde a “expulsão” do opressor de “dentro” do oprimido,enquanto sombra invasora. Sombra que, expulsa pelo oprimido, precisade ser substituída por sua autonomia e sua responsabilidade.Processo doloroso, porque visto como inevitável, destino fechado,fatalidade, “que resultou na morte dos que amava, é, na verdade, pautaperversa e de estratégia levada a efeito pela acumulação capitalista” (FREIRE,1996, p. 33). Se nossa humanização depende da leitura do mundo parapronunciá-la, essa humanização só se completará na luta histórica da classetrabalhadora.Há um papel pedagógico e político nesse processo: troca de saberes,interlocução, compartilhamento solidário. O educador não poderá se omitirde, também ele, comunicar sua leitura do mundo; tornando claro que nãoexiste uma única leitura possível. Há tantos mundos quanto leituras possíveisdele (polissemia). Leitura alguma, entretanto, é definitiva, terminal. A palavraem mutação nos recria. Rebenta a bitola do tempo, perspectiva o “nãoencerramento num eterno presente” (STRECK, 2006, p. 146). Freire falava deuma “releitura” do mundo, supondo uma leitura feita antes. Podemosrepartejar, recriar a palavra, o mundo e nós mesmos no processo de leitura e,ao dizer a palavra que somos, no irrequieto contexto cultural da história,materializando essa libertação na luta histórica contra toda a opressão.Referências: FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. São Paulo: Paz e Terra, 1994; GEERTZ,Clifford. A interpretação das culturas. Tradução de Fanny Wrobel. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara,1989; MERLEAU-PONTY, Maurice. Fenomenologia da percepção. Tradução de Reginaldo di Piero.Rio Janeiro: Freitas Bastos, 1971; STRECK, Danilo Romeu. Educação e argumentos de transcendência.In: SCARTLATELLI, Cleide C. da Silva; STRECK, Danilo R.; FOLLMANN, José Ivo. (Orgs.).Religião, cultura e educação. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2006; SUNG, Jung Mo. Sujeito comotranscendentalidade ao interior da vida real: um diálogo com o pensamento de Franz Hinkelammert.Cadernos do Ifan, Bragança Paulista, n. 20, p. 47-66, 2000.
LER/LEITURARemí KleinA temática da leitura perpassa várias obras de Paulo Freire, discutindo suaconcepção e sua importância, a partir de suas experiências nesse campo,sobretudo em vinculação com propostas de alfabetização de adultos. Já nasua obra clássica e inaugural Pedagogia do oprimido, escrita no exílio, noChile, em 1967 e publicada em português, em 1970, é dedicada atençãoespecial à leitura no processo de alfabetização, no seu prefácio escrito porErnani Maria Fiori (1987, p. 20), em que este afirma: “aprender a ler éaprender a dizer a sua palavra” além de trazer ampla abordagem sobre ainvestigação dos temas geradores, sua concepção e sua metodologia.Sua obra A importância do ato de ler: em três artigos que se completam(1982) pode ser considerada, no entanto, o texto-base em que Freire expõesuas ideias centrais a respeito da leitura. Como o próprio título indica, trata-sede uma abordagem sobre a importância do ato de ler, em que o autor explicitaa sua compreensão crítica acerca da alfabetização de adultos nas suasinterrelações com a leitura da palavra e a leitura do mundo, expondo tambéma experiência de alfabetização de adultos desenvolvida por ele e sua equipeem São Tomé e Príncipe, países africanos de fala portuguesa então recémemancipados.Igualmente em sua obra escrita em parceria com DonaldoMacedo, Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra (1990), Freirerelata outras experiências de alfabetização de adultos, por exemplo, na Guiné-Bissau e outros países africanos de fala portuguesa (1990, p. 45-68).A aprendizagem da leitura e a alfabetização são questões vistas por Freiresob o ângulo da educação política, por entender toda educação como um atoprofundamente político, como escreve no prefácio de A importância do atode ler: “Inicialmente me parece interessante afirmar que sempre vi aalfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento, porisso mesmo, um ato criador” (FREIRE, 2001, p. 19). Assim, descarta apossibilidade de uma educação neutra e enfatiza a necessidade de umacompreensão crítica do ato de ler. Na sua concepção, a alfabetização deveconsistir em aprender a ler o mundo, a compreender o texto e o contexto,surgindo aí sua célebre afirmação: “A leitura do mundo precede a leitura da
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LER/LEITURA
Remí Klein
A temática da leitura perpassa várias obras de Paulo Freire, discutindo sua
concepção e sua importância, a partir de suas experiências nesse campo,
sobretudo em vinculação com propostas de alfabetização de adultos. Já na
sua obra clássica e inaugural Pedagogia do oprimido, escrita no exílio, no
Chile, em 1967 e publicada em português, em 1970, é dedicada atenção
especial à leitura no processo de alfabetização, no seu prefácio escrito por
Ernani Maria Fiori (1987, p. 20), em que este afirma: “aprender a ler é
aprender a dizer a sua palavra” além de trazer ampla abordagem sobre a
investigação dos temas geradores, sua concepção e sua metodologia.
Sua obra A importância do ato de ler: em três artigos que se completam
(1982) pode ser considerada, no entanto, o texto-base em que Freire expõe
suas ideias centrais a respeito da leitura. Como o próprio título indica, trata-se
de uma abordagem sobre a importância do ato de ler, em que o autor explicita
a sua compreensão crítica acerca da alfabetização de adultos nas suas
interrelações com a leitura da palavra e a leitura do mundo, expondo também
a experiência de alfabetização de adultos desenvolvida por ele e sua equipe
em São Tomé e Príncipe, países africanos de fala portuguesa então recémemancipados.
Igualmente em sua obra escrita em parceria com Donaldo
Macedo, Alfabetização: leitura do mundo, leitura da palavra (1990), Freire
relata outras experiências de alfabetização de adultos, por exemplo, na Guiné-
Bissau e outros países africanos de fala portuguesa (1990, p. 45-68).
A aprendizagem da leitura e a alfabetização são questões vistas por Freire
sob o ângulo da educação política, por entender toda educação como um ato
profundamente político, como escreve no prefácio de A importância do ato
de ler: “Inicialmente me parece interessante afirmar que sempre vi a
alfabetização de adultos como um ato político e um ato de conhecimento, por
isso mesmo, um ato criador” (FREIRE, 2001, p. 19). Assim, descarta a
possibilidade de uma educação neutra e enfatiza a necessidade de uma
compreensão crítica do ato de ler. Na sua concepção, a alfabetização deve
consistir em aprender a ler o mundo, a compreender o texto e o contexto,
surgindo aí sua célebre afirmação: “A leitura do mundo precede a leitura da