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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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amuralham [...] para defender-se, preservar-se, sobreviver” (FREIRE, 1982, p.

70).

A invasão cultural se dá de diferentes maneiras e pode ser efetivada por

atores diversos sem nunca perder a sua característica alienante, uma vez que

impõe outra visão de mundo e freia a criação e a expansão das manifestações

culturais dos invadidos. Os invadidos, por isso, passam a sofrer as ações de

outra cultura, tornando-se assujeitados, objetos, espectadores da cultura

invasora. “Na invasão cultural, os atores – que nem sequer necessitam de,

pessoalmente, ir ao mundo invadido, sua ação é mediatizada cada vez mais

pelos instrumentos tecnológicos – são sempre atores que se superpõem, com

sua ação, aos espectadores, seus objetos” (FREIRE, 1987, p. 180).

Entendendo cultura como a maneira de viver de uma sociedade, que

envolve as artes, as religiões, os costumes, as regras sociais, as tecnologias,

linguagens e saberes que a estruturam, vale atentar para o fato de que todos

esses traços da cultura invasora funcionam como mecanismos para a invasão

cultural. Ao mesmo tempo, são esses traços que sofrem os processos de

silenciamento, de apagamento na cultura dos invadidos. A cultura imposta

não se efetiva apenas pelos termos que invadem o vocabulário dos invadidos,

mas atinge as pessoas em cada detalhe de sua vida, pois se trata da imposição

de todo um modo de vida.

Desde Os condenados da terra, de Frantz Fanon, onde “o domínio

colonial, porque total e simplificador, logo fez com que se desarticulasse de

modo espetacular a existência cultural do povo subjugado” (1979, p. 197), até

os domínios atuais de um império sem centro e sem limites, a invasão

cultural sempre encontra resistências. Ao ritmo da evolução tecnológica e dos

novos modos de comunicação e de troca de informações também se

complexificaram os processos de invasão cultural mundo afora.

Ao que assistimos, segundo Hardt e Negri, é “uma globalização

irresistível e irreversível de trocas econômicas e culturais” (2001, p. 11).

Todavia, esses pensadores recuperam uma expressão muito cara à resistência

simbólica e a força do humanismo no período da Renascença, que é a ideia de

posse, ou seja, aquilo que o corpo e que a mente podem fazer diante da

imposição de limites à sua expressão. Dessa perspectiva os autores ampliam

o sentido de resistência dos oprimidos à dominação cultural apontado por

Freire na palavra “amuralhar”. Para Hardt e Negri, a resistência à dominação

cultural em tempos de globalização só pode ser visível se pensada no termo

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