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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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INVASÃO CULTURAL

Felipe Gustsack

A invasão cultural é uma das quatro características da opressão

antidialógica, emergindo concomitantemente com a conquista, a divisão e a

manipulação. A invasão cultural tem lugar no mundo na medida em que as

relações entre pessoas e sociedades desenvolvem-se a partir de matrizes não

dialéticas ou antidialógicas, gerando dominação e dependência de umas sobre

as outras. A dependência implica o silenciamento das pessoas e a produção,

naquela sociedade, de uma “cultura do silêncio”, que abre espaços para que aí

se instaurem os valores de outra cultura, diferentes dos que emergiram

naquele contexto sócio-histórico específico. Nesses moldes, o

desenvolvimento das sociedades e sua modernização “traz consigo a invasão

cultural que deforma o ser da sociedade invadida, a qual chega a ser uma

espécie de caricatura de si mesma” (FREIRE, 1980, p. 62-63).

A caricaturização da sociedade invadida emerge na medida em que se

acentua o processo de dominação de invasores sobre invadidos. Como lembra

Freire, a invasão cultural tem duas faces: “De um lado, é já dominação; de

outro, é tática de dominação” (FREIRE, 1987, p. 150). Sendo afastadas de sua

identidade cultural, as pessoas da sociedade invadida tenderão a adotar os

valores daquelas que pertencem à cultura que as domina, procurando andar,

vestir, falar, ser como elas.

Em um processo de invasão cultural um olhar crítico constata, ao mesmo

tempo, o desrespeito à cultura original da comunidade invadida e o

reconhecimento, por parte desta, da cultura dominante. Vale lembrar, todavia,

que cultura do silêncio e cultura dominante, “ao não se gerarem a si próprias,

se constituem nas estruturas de dominação” (FREIRE, 1982, p. 70), pois

operam de maneira dialética e não em oposição simétrica. As pessoas

silenciadas nas manifestações de sua cultura original passam a reproduzir a

ideologia da cultura dominante que, por seu turno, reforça a cultura do

silêncio.

Freire chama a atenção, porém, para o fato de que “nem tudo o que

compõe a cultura do silêncio é pura reprodução ideológica da cultura

dominante. Nela há também algo próprio aos oprimidos em que se

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