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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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absurdamente desligado da objetividade os mecanismos de introjeção da

ideologia dominante, jamais discutidos” (1977, p. 29).

Freire cita um exemplo para sustentar a reflexão: “suponhamos que

propuséssemos a indivíduos de grupos ou classes dominadas codificações que

mostrassem sua tendência a seguir os modelos culturais dos dominados [...].

É possível que resistissem às codificações, considerando-as falsas, talvez

mesmo ofensivas”. Para Freire, aprofundando a análise “começariam a

perceber que sua aparente imitação dos modelos do dominador é o resultado

da introjeção daqueles modelos e, sobretudo, dos mitos sobre a pseudosuperioridade

das classes dominantes a que corresponde a pseudoinferioridade

dos dominados” (p. 53). Por isso, para Freire, “a introjeção dos

valores dos dominados não é um fenômeno individual, mas, social e cultural.

Sua extrojeção, demandando a transformação revolucionária das bases

materiais da sociedade, que fazem possível tal fenômeno, implica também

numa certa forma de ação cultural” (p. 54).

Freire avança para compreender a aderência ao modelo, refletindo a

“autodesvalia”, também característica dos oprimidos: “resulta da introjeção

que fazem eles da visão que deles têm os opressores” (1982, p. 54). Para

Freire, “nas sociedades em que a dinâmica estrutural conduz à escravização

das consciências, ‘a pedagogia dominante é a pedagogia das classes

dominantes’. Porque, pelo duplo mecanismo da assimilação, ou melhor, da

introjeção, a pedagogia que se impõe às classes dominadas como ‘legítima’

[...] provoca ao mesmo tempo o reconhecimento por parte das classes

dominadas da ‘ilegitimidade’ de sua própria cultura” (1980, p. 76). E Freire,

mais uma vez, trabalha com o exemplo: “a alfabetização, por exemplo, numa

área de miséria, só ganha sentido na dimensão humana se, com ela, se realiza

uma espécie de psicanálise histórico-político-social de que vá resultando a

extrojeção da culpa indevida”. Portanto, estamos diante da “expulsão do

opressor de dentro do oprimido, enquanto sombra invasora” (1997, p. 93). A

referida sombra, para ser extrojetada, requer a efetiva assunção à autonomia

do sujeito, “daí a necessidade da educação alfabetizadora, num espaço que

não proíba a reflexão, tampouco transforme o ‘lócus’ alfabetizador em

palanque de comícios libertadores, mas em espaço onde se experiencie ‘com

intensidade dialética’ a leitura do mundo permeada pela leitura da palavra”

(1993, p. 93). Encontra-se, assim, na educação, a possibilidade de superação

da alienação, para que já não absolutize a “sua própria ignorância em

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