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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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INTROJEÇÃO/EXTROJEÇÃO

Gomercindo Ghiggi e Martinho Kavaya

Pelo entendimento dialético da relação entre consciência e mundo “é

possível compreender o fenômeno da introjeção do(a) opressor(a) pelo(a)

oprimido(a), a ‘aderência’ deste àquele, a dificuldade que tem o(a)

oprimido(a) de localizar o(a) opressor(a) fora de si, oprimido(a).” (FREIRE,

1994, p. 106). É com essa perspectiva metodológica que Freire nos convoca à

reflexão acerca de um dos binômios mais complexo em seu pensamento:

introjeção/extrojeção. Para Freire (p. 141)

[...] a análise das relações dialéticas opressores-oprimidos, do processo de

introjeção do dominador pelos dominados, [...] a necessidade, numa

prática educativa progressista, de serem os educandos desafiados em sua

curiosidade; a presença crítica de educadoras e educadores e de

educandos, enquanto, ensinando umas e aprendendo outros, todos

aprendem e ensinam, sem que isso signifique serem iguais ou que, quem

ensina não aprende e quem aprende não ensina [é o que pode nos levar à

compreensão da aderência a modelos opressores pelos oprimidos].

Mas qual é a origem de tal discussão em Freire? De onde terá Freire

extraído tais conceitos para falar de realidade tão desafiadora e central aos

processos educativos e, logo, à compreensão política do mundo? Poderíamos

pensar que introjeção é mecanismo pelo qual, inconscientemente, alguém

assume uma concepção ou uma prática que lhe é externa, adotando-a como

parte do seu mundo. A introjeção pode, também, ser um ato de falsificação da

experiência. Seria um ato de assunção ao modo de ser que tem origem em

outrem. Em sua biobibliografia, especialmente em seus escritos do tempo do

exílio, Freire elabora uma perspectiva pedagógica revolucionária a partir da

qual busca levar as pessoas a perceberem “que o fundamental mesmo é fazer

história”, que dificilmente conseguem refletir “os condicionamentos de seu

próprio pensamento; a refletir sobre a razão de ser de sua própria situação, a

fazer uma nova ‘leitura’ da realidade que lhes é apresentada como algo que é

e a que devem simplesmente melhor adaptar-se pensamento-linguagem,

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