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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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INTERSUBJETIVIDADE

Adriana R. Sanceverino Losso

Falar de intersubjetividade é falar da natureza do próprio sujeito, que só

se constitui pelo reconhecimento do outro. Teoria recorrente e convergente

em Freire e Bakthin a abordagem da intersubjetividade se constitui na e pela

linguagem. Por isso, tem natureza dialógica. É o diálogo a condição para a

intersubjetividade. Trata-se de buscar uma perspectiva do homem que, por

meio da linguagem, mediatiza o mundo que é experimentado, por ele mesmo,

sendo no mundo. Os dois pensadores compreendem que a língua é, ao mesmo

tempo, uma produção particular, como marca de subjetividade do sujeito, e

compartilhada, porque a própria produção da linguagem constitui o sujeito e

é por ela constituída. Para ambos os autores, só um indivíduo engajado que

pertença ao mundo pode modificá-lo.

As ideias de Freire, apresentadas sobre a sua concepção de homem e

educação, particularmente nas obras Pedagogia do oprimido, Pedagogia da

esperança e da Pedagogia da autonomia, reportam ao diálogo com Bakhtin

(1986), no que se refere à compreensão da linguagem como processo

histórico e de interação entre os homens. Na Pedagogia do oprimido ele

busca a restauração da intersubjetividade que se apresenta como pedagogia

do homem. Para Freire, é pela linguagem que o sujeito objetiva sua

subjetividade; esta, por sua vez, emerge de um processo de

intersubjetividade. Assim, constituir o eu pelo reconhecimento do tu é o

princípio da subjetividade que está sempre condicionado ao princípio de

intersubjetividade.

Em muitos de seus escritos, Freire nos diz que o homem é um ser que está

no mundo e com o mundo e, por isso, estabelece uma relação entre sujeito e

objeto que é expressa pela linguagem. Subjetividade e objetividade se

encontram em unidade dialética que resulta um conhecer solidário com o

atuar, e este com aquele, não se pode pensar uma sem a outra. Essa unidade

gera um atuar e um pensar certos sobre a realidade para transformá-la

(FREIRE, 1981, p. 23-38). O eu dialógico freiriano se constrói em colaboração,

sabe que a sua constituição está no tu, o outro. Mas sabe, também, que “esse

tu que o constitui se constitui, por sua vez, como eu, ao ter no seu eu um tu.

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