30.05.2021 Views

Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Freire confronta na maioria de seus escritos, em especial os mais conhecidos.

Ele adota a noção de Cabral do intelectual elitista que, nessa situação, precisa

cometer suicídio de classe para renascer como um trabalhador revolucionário

identificado com as aspirações do povo. Isso imediatamente relembra a noção

gramsciana do partido e do movimento revolucionário assimilando

intelectuais tradicionais que contribuem para gerar a tão almejada “reforma

intelectual e moral”. Tal como Gramsci, no entanto, Freire menciona que

também é necessário gerar, dentro dos quadros dos subalternos, um novo tipo

de intelectual cujo pensamento e cuja ação ajudem a produzir uma nova

Weltanschauung. Aqui a conceptualização de Freire lembra a noção de Marx

a respeito da educação politécnica exposta na Resolução de Genebra de 1866.

Freire defende que o novo tipo de intelectual deveria ser forjado na unidade

entre prática e teoria, trabalho manual e intelectual (sombras de Mao)

(FREIRE, 1978, p. 104). Freire faz isso sem descartar a importância de

reeducar os intelectuais elitistas, a quem cabe uma importante tarefa no

contexto pós-colonial imediato e futuro, qual seja, de “descolonizar as

mentes” (em outro lugar Freire cita o presidente Aristides Pereira, de Cabo

Verde – ver FREIRE, 1985). No entanto, Freire alerta que a “morte” desses

tradicionais intelectuais elitistas não é facilmente aceita por aqueles que, não

obstante, se comprometem com uma posição revolucionária. Ecoando

Bourdieu e sua noção de habitus, Freire parece sugerir que tais intelectuais,

embora eticamente comprometidos com os subalternos, acham difícil “saltar

fora a de sua pele” e ser com e como eles. Ele salienta que a educação

intelectual da classe média reforça a posição de classe de quem a recebe e,

como Gramsci havia explicado com respeito ao papel dos intelectuais no Sul

da Itália, também em relação ao papel da língua nesse processo (ver IVES,

2004), faz com que “absolutizem” sua atividade e a concebam como sendo

superior àquela dos que não tiveram a mesma oportunidade. Para Freire, o

desafio num contexto revolucionário, caracterizado por um processo que em

outro lugar ele chama de “transformação do poder”, é não criar intelectuais

elitistas que cometam suicídio de classe, mas prevenir que estes sejam

formados (FREIRE, 1978, p. 104). O ponto de partida para intelectuais que

trabalham com e não para o povo é a situação existencial concreta deste. Isso

implica a pesquisa dos complexos temáticos que se originam nas situações

existenciais. No entanto, a atividade intelectual implica ultrapassar essa

situação para evitar o basismo.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!