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Dicionario-Paulo-Freire-versao-1

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INTELECTUAL/INTELECTUAIS

Peter Mayo

É difícil generalizar a visão de Freire sobre os intelectuais, embora ideias

e reflexões sobre a atividade intelectual revolucionária sejam frequentes em

toda a sua obra. Um conceito central que emerge nos escritos de Freire é que

a atividade intelectual revolucionária é caracterizada pela práxis, o que

significa dizer, pela reflexão sobre o próprio, a ação para transformar a

própria ação. Isso se aproxima da noção de Marx, nas Teses sobre

Feuerbach, de que o propósito principal não é simplesmente interpretar o

mundo, mas transformá-lo.

Transformação é um elemento central na concepção freiriana de

intelectual. Embora leve em consideração a função dos intelectuais

tradicionais, como aqueles de reconhecimento internacional e os professores

universitários (veja seus diálogos com professores da UNAM, em ESCOBAR

et. al, 1994), a sua concepção está mais na linha da análise de Gramsci sobre

o papel que ele ou ela realiza tanto em apoiar/cimentar os arranjos

hegemônicos existentes ou em desafiá-los. No último caso, o intelectual

ajuda a problematizar temas através de um diálogo problematizador, o qual

cria a consciência crítica necessária que ajuda a gerar a mudança social. A

transformação que Freire advoga está predicada na justiça social. Nesse

sentido, o intelectual de Freire é mais propriamente um intelectual

transformador, para adotar um termo usado por seu amigo e colaborador,

Henry A. Giroux.

A reinvenção mais próxima da análise de Gramsci sobre o papel dos

intelectuais no processo revolucionário provavelmente pode ser encontrada

nas Cartas a Guiné-Bissau, mais precisamente na “Carta 11” (FREIRE, 1978).

Ali, como em outros escritos, ele aborda a questão do legado colonial na

educação, que é muito elitista e restringe a qualificação a um pequeno grupo

de pessoas que, por sua vez, servem como intelectuais urbanos estreitamente

vinculados aos poderes coloniais que apoiam. A influência de Amilcar

Cabral, Antonio Gramsci e Karl Marx pode ser detectada nessa discussão

sobre intelectuais num contexto de um país empobrecido, recém-libertado,

buscando soltar-se dos grilhões coloniais. Essa é a situação clássica que

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