Dicionario-Paulo-Freire-versao-1
INDIGNAÇÃOAna Maria Araújo Freire (Nita Freire)Toda a literatura de Paulo Freire está empapada de seus sentimentos eemoções. Dizia sempre: “Não penso somente com minha cabeça, penso commeu corpo inteiro”. Com essa frase queria dizer que ele não fazia e nãoacreditava poder pensar-se e escreverem-se textos fora da intuição e daobservação, longe do cotidiano vivido molhado de emoções e dossentimentos, somente com a razão intelectiva.Assim, a indignação ou raiva legítima é ponto fundamental na teoriacrítico-político-pedagógica que ele concebeu. Sempre se lembrava do fato deCristo ter expulsado os vendilhões do Templo como um exemplo da justaindignação ou justa ira. Paulo nunca valorizou o ódio. Esse sentimento nosimobiliza no lugar de nos impulsionar para as ações justas e éticas.A primeira raiva: na noite de 28 de setembro de 1922 o Paulinhocontrariou-se por que sua Mamãe não o tirou logo do berço, teve umgrande acesso de raiva, pouco faltou para cair do berço tais os pontapésque dava auxiliado com os seus gritinhos. [Escreveu Dona Tudinha, mãede Paulo, no seu livro do Bebê] (2006, p. 39)Afirmei na biografia que sua mãe, apesar de fervorosa católica, negandoas pregações da Igreja de que o bom cristão só sente amor, viu o “ataque deraiva” de seu filho de apenas 1 ano como uma coisa natural, humana.Considero essa sua atitude como decisiva para ele nunca ter escondido assuas emoções, tendo-as levado e o ajudado na formulação de suacompreensão de educação (2006, p. 41-42).Dialético Freire jamais pode entender a indignação apartada do seuoposto antagônico, o amor, que necessariamente vem atrelado com aesperança. Amor é esperança. Esperança de vida harmoniosa e feliz nummundo mais ético autenticamente democrático. Assim, declarava e acreditavaque as ações éticas genuinamente humanas nascem desses dois sentimentosindignação e amor, se forem vividos intensamente, em relação dialética coma esperança, autenticando a existência humana.
Assim, é que ele pode sentir a raiva necessária, profunda e intensa paraperceber, constatar e lutar por inéditos viáveis como dar voz ao povo,conscientizá-los de que todos e todas são sujeitos da história e não apenasobjetos nela. Sentir e ter tido compaixão pelos oprimidos e oprimidasdeterminou a sua luta destemida contra as relações e as condições deopressão gerada dentro dele pelo sentir profundo da indignação-amorincompletudehumana sobre os quais incidindo as sua reflexões maisprofundas nasceu a denúncia-amor-esperança.Escrevi em 2001 sobre Paulo:Dava-se o direito de sentir profundamente as raivas, legítimas, comodizia, então elaborava o acontecido científica e politicamente nos seusdizeres pautados pela compostura ética através de uma criaçãolingüístico-estética de rara beleza. Assim, quando repudiava o feito ou ofato os denunciava para, dialeticamente, certo da razão de ser dos fatos edas coisas amorosamente anunciar o novo. Esta é a dinâmica dadenúncia-anúncio em Paulo, o seu ser educador, político e ético. (2007,p. 178-179)Referências: FREIRE, Ana Maria Araújo. A reinvenção de uma sociedade mais ética: o sonhopossível de Paulo Freire. In: CALADO, Alder Júlio (Org.). Conferências dos Colóquios InternacionaisPaulo Freire II. Recife: Bagaço, 2007; FREIRE, Ana Maria Araújo. Paulo Freire: uma história devida. Indaiatuba: Villa das Letras, 2006; FREIRE, Paulo. Pedagogia da indignação: cartas pedagógicase outros escritos. São Paulo: Editora UNESP, 2000.
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INDIGNAÇÃO
Ana Maria Araújo Freire (Nita Freire)
Toda a literatura de Paulo Freire está empapada de seus sentimentos e
emoções. Dizia sempre: “Não penso somente com minha cabeça, penso com
meu corpo inteiro”. Com essa frase queria dizer que ele não fazia e não
acreditava poder pensar-se e escreverem-se textos fora da intuição e da
observação, longe do cotidiano vivido molhado de emoções e dos
sentimentos, somente com a razão intelectiva.
Assim, a indignação ou raiva legítima é ponto fundamental na teoria
crítico-político-pedagógica que ele concebeu. Sempre se lembrava do fato de
Cristo ter expulsado os vendilhões do Templo como um exemplo da justa
indignação ou justa ira. Paulo nunca valorizou o ódio. Esse sentimento nos
imobiliza no lugar de nos impulsionar para as ações justas e éticas.
A primeira raiva: na noite de 28 de setembro de 1922 o Paulinho
contrariou-se por que sua Mamãe não o tirou logo do berço, teve um
grande acesso de raiva, pouco faltou para cair do berço tais os pontapés
que dava auxiliado com os seus gritinhos. [Escreveu Dona Tudinha, mãe
de Paulo, no seu livro do Bebê] (2006, p. 39)
Afirmei na biografia que sua mãe, apesar de fervorosa católica, negando
as pregações da Igreja de que o bom cristão só sente amor, viu o “ataque de
raiva” de seu filho de apenas 1 ano como uma coisa natural, humana.
Considero essa sua atitude como decisiva para ele nunca ter escondido as
suas emoções, tendo-as levado e o ajudado na formulação de sua
compreensão de educação (2006, p. 41-42).
Dialético Freire jamais pode entender a indignação apartada do seu
oposto antagônico, o amor, que necessariamente vem atrelado com a
esperança. Amor é esperança. Esperança de vida harmoniosa e feliz num
mundo mais ético autenticamente democrático. Assim, declarava e acreditava
que as ações éticas genuinamente humanas nascem desses dois sentimentos
indignação e amor, se forem vividos intensamente, em relação dialética com
a esperança, autenticando a existência humana.