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IDENTIDADE CULTURAL

Felipe Gustsack

A identidade cultural está na obra de Paulo Freire como uma bússola e

um continente, um ponto de partida e de chegada, que orienta toda a sua

abordagem pedagógica. Partindo dela Freire apresenta as suas concepções de

homem e de mundo. Conscientizando-se dos valores culturais que estruturam

a si mesmo e ao mundo, identificando-se com sua realidade imediata pode o

homem “ser mais”. Na mesma perspectiva, conhecendo e respeitando os

valores culturais que traçam a identidade das pessoas, podem os educadores

ajudar outros homens a romperem as amarras de uma visão ingênua da

realidade. Segundo Freire, o educador deve esforçar-se para ampliar seus

conhecimentos “em torno do homem, de sua forma de estar sendo no mundo,

substituindo por uma visão crítica a visão ingênua da realidade” (1979, p.

21). Ao vincular a identidade à cultura, Freire aponta para o seu caráter

fluido, para a constante mutável e mutante da humanidade, para uma

concepção de sujeito em permanente processo de transformação. “Através de

sua permanente ação transformadora da realidade objetiva, os homens,

simultaneamente, criam a história e se fazem seres histórico-sociais” (FREIRE,

1987, p. 92).

As propostas pedagógicas de Freire partem da identidade e para ela

convergem a partir da defesa da autonomia, inaugurando-se como

compromisso dos homens consigo mesmos, com sua identidade cultural, “de

que fazem parte a dimensão individual e a de classe”. Nessa abordagem, o ato

de “ensinar exige o reconhecimento e a assunção da identidade cultural”. Ou

seja, a defesa de que a importância da prática educativo-crítica está na criação

de condições para que as pessoas envolvidas no processo educacional possam

vivenciar “a experiência profunda de assumir-se. Assumir-se como ser social

e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador,

realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de amar” (1998, p. 46).

A assunção da identidade cultural tomada como pressuposto às práticas

educativas remete a educação ao patamar de ação cultural para a

transformação, mudança, liberdade. Faz-nos lembrar, como propõe Silva ao

discutir o conceito de identidade cultural em Stuart Hall, que também a

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