Dicionario-Paulo-Freire-versao-1
HUMANIZAÇÃO/DESUMANIZAÇÃOJaime José ZitkoskiFreire classifica a si mesmo como um educador humanista e direcionouseu trabalho e toda uma obra pedagógica em prol de um mundo maishumanizado. Nessa perspectiva, entendemos que a pedagogia freirianaassume posição radicalmente comprometida com as lutas por humanização eresistência contra toda e qualquer forma de desumanização em relação à vidaconcreta das pessoas. Além disso, Freire expressa em seus principais escritosuma preocupação em fundamentar uma antropologia que seja anúncio de suaforma de ver a humanidade, a história e o mundo socioculturalmenteconstruído por nós. Nesse sentido, ele concebe que naturalmente estamosvocacionados para ser mais.A vocação para a humanização, segundo a pedagogia freiriana, é umamarca da natureza humana que se expressa na própria busca do ser mais,através da qual o ser humano está em permanente procura, aventurando-securiosamente no conhecimento de si mesmo e do mundo, além de lutar parair além de suas próprias conquistas. Essa busca do ser mais, segundo Freire,revela que a natureza humana é programada, jamais determinada, segundosua dinâmica do inacabamento e do vir-a-ser. Ou seja:É por estarmos sendo assim que vimos nos vocacionando para ahumanização e que temos na desumanização, fato concreto na história, adistorção da vocação. Jamais, porém, outra vocação humana. Nem umanem outra (humanização, ou desumanização), são destinos certos, dadodado, sina ou fato. (Freire, 1994, p. 99)É a própria natureza humana em seu modo de existir na história – porimplicar um constante autofazer-se no mundo – que, no entender de Freire,caracteriza nossa vocação pela luta a favor da humanização. Frente àsrealidades históricas de desumanização de milhões de pessoas no mundotodo, a luta por humanização funda-se antropologicamente e eticamente noprocesso de construção desse ser inconcluso, que busca recuperar suahumanidade ou superar as situações limites para realizar seu próprio ser mais.
Já na Pedagogia do oprimido, Freire deixa bem explicitado o que entendepor estarmos histórica e humanamente vocacionados para a humanização domundo, pois:A desumanização, que não se verifica apenas nos que têm suahumanidade roubada, mas também, ainda que de forma diferente, nosque a roubam, é distorção da vocação do ser mais. É distorção possívelna história, mas não vocação histórica. (1993, p. 30)Diante das realidades opressoras que desumanizam homens e mulheres nomundo todo, o que devemos fazer, enquanto autênticos humanistas, é lutar deforma esperançosa e autocrítica pela transformação da sociedade e da culturade opressão. Sem esperança não é possível a assunção da utopia que fortalecenossa luta por um mudo mais livre e humanizado.A luta pela superação das situações-limites em que nos encontramoscondicionados é a razão de ser de nossa existência e o impulso prático a partirdo qual nos humanizamos por sermos capazes de construirmos novos sentidoe formas de viver no mundo. Esse é o caminho que nos aponta Freireenquanto seres dotados de capacidade ético-política para intervir no mundo econstruir algo novo na história. Ou seja, somos seres do inédito viável, poisainda não somos totalmente prontos, viemos nos fazendo na história epodemos sempre nos reinventar segundo a busca por mais humanidade.Em sua última obra publicada em vida, Freire reforça mais uma vez seuotimismo e esperança na humanidade, por sua capacidade de saber-sehistórica, inacabada e afirmar-se na luta por um mundo melhor.Gosto de ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionadomas, consciente do inacabamento, sei que posso ir mais além dele. Esta éa diferença profunda entre o ser determinado e o ser condicionado.(1997, p. 59)Nesse sentido, Freire fundamenta a esperança de humanização a partir datranscendência de uma natureza que se constrói a si mesma em um processosempre aberto para transpor as barreiras que atrofiam nosso potencial e/ouvocação para o ser mais. O papel da educação libertadora é potencializar essedinamismo da natureza humana e cultivar a dialética ação-reflexão na busca
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HUMANIZAÇÃO/DESUMANIZAÇÃO
Jaime José Zitkoski
Freire classifica a si mesmo como um educador humanista e direcionou
seu trabalho e toda uma obra pedagógica em prol de um mundo mais
humanizado. Nessa perspectiva, entendemos que a pedagogia freiriana
assume posição radicalmente comprometida com as lutas por humanização e
resistência contra toda e qualquer forma de desumanização em relação à vida
concreta das pessoas. Além disso, Freire expressa em seus principais escritos
uma preocupação em fundamentar uma antropologia que seja anúncio de sua
forma de ver a humanidade, a história e o mundo socioculturalmente
construído por nós. Nesse sentido, ele concebe que naturalmente estamos
vocacionados para ser mais.
A vocação para a humanização, segundo a pedagogia freiriana, é uma
marca da natureza humana que se expressa na própria busca do ser mais,
através da qual o ser humano está em permanente procura, aventurando-se
curiosamente no conhecimento de si mesmo e do mundo, além de lutar para
ir além de suas próprias conquistas. Essa busca do ser mais, segundo Freire,
revela que a natureza humana é programada, jamais determinada, segundo
sua dinâmica do inacabamento e do vir-a-ser. Ou seja:
É por estarmos sendo assim que vimos nos vocacionando para a
humanização e que temos na desumanização, fato concreto na história, a
distorção da vocação. Jamais, porém, outra vocação humana. Nem uma
nem outra (humanização, ou desumanização), são destinos certos, dado
dado, sina ou fato. (Freire, 1994, p. 99)
É a própria natureza humana em seu modo de existir na história – por
implicar um constante autofazer-se no mundo – que, no entender de Freire,
caracteriza nossa vocação pela luta a favor da humanização. Frente às
realidades históricas de desumanização de milhões de pessoas no mundo
todo, a luta por humanização funda-se antropologicamente e eticamente no
processo de construção desse ser inconcluso, que busca recuperar sua
humanidade ou superar as situações limites para realizar seu próprio ser mais.